
Para onde quer que olhemos – meios de comunicação, conferências, o nosso feed do LinkedIn – a inteligência artificial está em todo o lado, no centro das atenções. Mas será que a conversa sobre o tema já se esgotou? A resposta arrojada é: definitivamente, não.
Recentemente, explorei como devemos “desenhar a nossa própria IA”, em vez de apenas consumir passivamente ferramentas genéricas já existentes. Enfatizei a importância dos processos centrados no ser-humano, co-criando a IA e sublinhando que, sem supervisão humana, a IA deriva para a abstração. Demasiadas vezes, tratamos a IA como uma caixa mágica ou até como um destino. Pior, ainda a consideramos apenas um software. Mas a IA não é um mero software; é um tipo de inteligência fundamentalmente diferente. Uma inteligência que reformula sistemas, decisões e até a nossa própria compreensão da criatividade.
Quando dizemos que a IA deve permanecer “concebida para servir”, estamos a ecoar a necessidade de sistemas que integrem valores, contexto e propósito humanos. Quando falamos em ter a IA ao nosso serviço, estamos a lembrar o mundo da sua capacidade transformadora, mas apenas quando é deliberadamente orientada para fins humanos definidos, e, novamente, com um propósito claro. Juntos, estes pontos de vista sublinham o desafio maior: distinguir entre o hype e a transformação significativa, impulsionada pelo ser humano.
É por isso que ainda precisamos de falar sobre IA. Não através de títulos mais ruidosos, mas de perguntas mais profundas. O verdadeiro debate não deve ser apenas sobre se a IA é boa ou má, ou se nos irá substituir ou capacitar. Esses são os frutos mais fáceis de apanhar. O verdadeiro desafio reside em aprender a integrar a IA de forma responsável, criativa e sustentável, especialmente em sistemas que nunca foram concebidos para outra inteligência.
Porque sejamos francos: a verdadeira mudança vai muito além de lançamentos de produtos ou ciclos de tendências. Trata-se de redesenhar o trabalho, a criatividade, a governança e até as nossas próprias suposições sobre a inteligência. Os humanos nunca tiveram de lidar com outra inteligência ao “nosso” nível, e isto é assustador, deixa-nos receosos. Nessa perspetiva, devemos continuar a conversa, não apenas para nos mantermos relevantes, mas para garantir que a IA nos serve de forma significativa.
A questão não é se o debate sobre a IA acabou. É se estamos finalmente prontos para ter o debate certo. Defendo-o agora mais do que nunca: a IA não tem limites. Apenas os humanos os têm. A nossa tarefa não é parar de falar sobre IA, mas sim de elevar a discussão, de um espetáculo superficial para uma reflexão substancial e uma ação propositada.
Devíamos começar a vê-la como um parceiro que cocriamos e com quem desenhamos, como uma fusão de propósito humano e inteligência de máquina.