
A sul-africana Airlink, uma das principais companhias aéreas a operar em Moçambique, admite deixar de vender bilhetes em território moçambicano, devido a dificuldades em repatriar fundos.
“Apesar do nosso contínuo empenho em servir a região e apoiar o setor turístico local, enfrentamos dificuldades persistentes no repatriamento dos fundos gerados pela venda de bilhetes de avião no país”, explica a companhia aérea, numa carta dirigida ao presidente da Associação de Agentes de Viagem e Operadores Turísticos de Moçambique (Avitum), Noor Momadem.
Os “desafios” descritos na carta, “têm colocado uma pressão considerável” sobre as “operações financeiras e chegaram a um ponto em que podem comprometer a sustentabilidade” da atividade comercial da companhia na região.
“Lamentavelmente, estamos a considerar seriamente o encerramento da emissão de bilhetes de avião através dos canais de reserva locais em Moçambique. Compreendemos o potencial impacto que esta decisão pode ter nos agentes de viagens, passageiros e estamos a explorar ativamente todas as vias possíveis para resolver a situação”, descreve ainda a carta, assinada pelas responsáveis dos setores de vendas da Airlink.
“Caso a decisão de suspender a emissão de bilhetes seja finalizada, forneceremos um aviso e apoio alargados para garantir uma transição suave para todas as partes afetadas”, acrescenta.
A ministra das Finanças de Moçambique, Carla Loveira, disse em 16 de junho que “está a decorrer” um processo com os bancos para disponibilização das divisas necessárias para repatriamento de verbas das companhias aéreas retidas no país.
“Estamos a trabalhar com os bancos para assegurar essa exportação de divisas que está a ser solicitada”, disse.
A Lusa avançou em 02 de junho que as companhias aéreas tinham no final de abril 1.136 milhões de euros em fundos bloqueados para repatriamento em vários países, lista que passou a ser liderada por Moçambique, segundo a Associação Internacional de Transporte Aéreo (IATA).
“Moçambique subiu para o topo dos países com fundos bloqueados, retendo 205 milhões de dólares [180 milhões de euros] de companhias aéreas, em comparação com 127 milhões de dólares [111 milhões de euros] em outubro de 2024”, refere-se numa informação da IATA, consultada pela Lusa.
De acordo com a informação da IATA, globalmente, os fundos bloqueados às companhias aéreas, que não os conseguem repatriar, ascendiam no final de abril a 1.300 milhões de dólares (1.136 milhões de euros), com a região de África e Médio Oriente (AME) a representar 85% do total, equivalente a 1.100 milhões de dólares (962 milhões de euros).
“Este é um valor significativo, embora represente uma melhoria de 25% em comparação com os 1.700 milhões de dólares [1.487 milhões de euros] registados em outubro de 2024. A IATA instou os governos a removerem atempadamente todas as barreiras que impedem as companhias aéreas de repatriar as suas receitas com a venda de bilhetes e outras atividades, em conformidade com os acordos internacionais e as obrigações decorrentes dos tratados”, refere aquela organização internacional do setor aéreo.
Citado na mesma informação, o diretor-geral da IATA, Willie Walsh, afirmou que “garantir a repatriação atempada das receitas é vital” para permitir que as companhias aéreas “cubram as despesas denominadas em dólares e mantenham as suas operações”.
“Os atrasos e as recusas violam os acordos bilaterais e aumentam os riscos cambiais. O acesso fiável às receitas é fundamental para qualquer empresa, especialmente para as companhias aéreas que operam com margens muito reduzidas. As economias e os empregos dependem da conectividade internacional. Os governos devem compreender que é um desafio para as companhias aéreas manter a conectividade quando a repatriação de receitas é negada ou atrasada”, disse Walsh.
A Confederação das Associações Económicas (CTA) de Moçambique alertou em 18 de fevereiro que a falta de divisas no mercado estava então a levar companhias aéreas a limitar a atividade no país, pedindo medidas urgentes.