A indústria automóvel europeia está dividida quanto à proibição dos motores de combustão em 2035. Na Alemanha, principal pulmão do setor na Europa, começam agora a tomar posição e a pressionar fortemente a partir de diferentes setores.
Estão a disparar os alarmes de “preocupação”
Como todos sabemos, em 2035 será proibida na Europa a venda de carros com motor de combustão, incluindo os híbridos. No entanto, a indústria há muito que pressiona para corrigir este caminho. Agora, a partir da Alemanha, principal motor do setor no continente, começam a “alinhar-se os astros”.
Começaram as próprias marcas a recuar nos seus ambiciosos planos de se tornarem puramente elétricas até ao final da presente década, e agora parecem segui-las, na sua maioria, os dirigentes políticos e as associações automóveis.
Não nos enganemos, (quase) todos estão de acordo em que o veículo elétrico é o caminho a seguir. O que se coloca em causa e se questiona é o percurso para chegar a este objetivo, sobretudo tendo em conta as dificuldades recentes que as marcas enfrentam atualmente.
Falamos dos maiores custos de fabrico, da incerteza dos consumidores, da infraestrutura desigual de carregamento na Europa, do domínio da cadeia de abastecimento pelos fabricantes chineses e das tarifas de 15%o impostas recentemente por Donald Trump.
Alemanha pressiona a Europa
Segundo os meios de comunicação alemães, diferentes atores da política e da indústria estão a posicionar-se para preparar uma estratégia conjunta contra a proibição europeia de 2035. E todos parecem estar convencidos de algo: a tecnologia híbrida plug-in deveria ser a principal aposta nesta transição. Em suma, uma «abertura tecnológica».
Os principais partidos políticos já se posicionaram em maior ou menor grau. A aliança conservadora CDU/CSU pede abertamente a revogação desta proibição e o foco nos PHEV. Por sua vez, o partido social-democrata SPD está dividido quanto ao assunto, embora já uma importante fação esteja aberta à consideração das tecnologias híbridas, especialmente para as frotas da UE.
A tecnologia elétrica é a única oportunidade real para a indústria automóvel alemã.
Defendem a partir do SPD.
Por sua vez, o líder da CSU, Markus Söder, foi mais categórico:
Se não reagirmos rapidamente, centenas de milhares de empregos estarão em risco. Devemos travar já a eliminação gradual dos motores de combustão. Precisamos de abertura tecnológica. É correto promover os veículos elétricos, mas seria um grave erro depender exclusivamente deles.
A IG Metall, o maior sindicato industrial do metal da Alemanha e da Europa, bem como a Associação Alemã da Indústria Automóvel (VDA), pedem também uma maior abertura tecnológica e uma abordagem mais ampla.
Uma cimeira automóvel deverá realizar-se em breve na Alemanha para alcançar uma posição comum a apresentar à Europa.
Atenção ao 12 de setembro
Outra reunião importante, e muito aguardada, deverá ter lugar a 12 de setembro. Os fabricantes irão reunir-se com os dirigentes europeus no “Diálogo estratégico” sobre o futuro da indústria automóvel europeia.
Um encontro que já foi “preparado” pela ACEA, a associação de fabricantes da região. A sua carta enviada diretamente à Presidente da Comissão foi muito explícita e direta: pedem abertamente para derrubar a proibição de 2035. Ola Kallenius, seu presidente e também CEO da Mercedes-Benz, assina o documento.
Cumprir com os rígidos objetivos de CO2 para carros e carrinhas em 2030 e 2035 é, no mundo atual, simplesmente inviável. Os veículos elétricos liderarão a mudança, mas também deve haver espaço para os híbridos plug-in, os extensores de autonomia, os veículos com motor de combustão interna de alta eficiência, o hidrogénio e os combustíveis descarbonizados.
O documento da ACEA vai mais longe e aponta para 12 de setembro:
O próximo Diálogo Estratégico é o momento de mudar de rumo. É a última oportunidade da UE para ajustar as suas políticas às realidades atuais do mercado, geopolíticas e económicas, ou corre o risco de pôr em perigo uma das suas indústrias mais bem-sucedidas e competitivas a nível mundial. A viagem exige mais pragmatismo e flexibilidade para manter em funcionamento o motor do setor automóvel europeu.
Portanto, vivemos um ponto decisivo: manter a estratégia firme ou dar dois passos atrás. Mas atenção, esses dois passos não seriam um recuo, mas sim o impulso necessário para cumprir as metas.
A questão que se impõe: cederá a Europa às pressões das marcas e dos dirigentes alemães? Dentro de algumas semanas deveremos sair da dúvida.