“Basta!” Mães acorrentam-se à porta de Netanyahu em protesto contra a guerra em Gaza

Seis mães juntaram-se à porta do n.º 35 da rua Azza, prenderam-se com correntes metálicas e perfilaram-se junto de três caixões vazios: um para o próximo refém assassinado pelo grupo islamita palestiniano devido à pressão militar de Israel, outro para um refém que desaparecerá num bombardeamento e outro ainda para o soldado seguinte que cairá “na guerra sem propósito” no enclave.

“Por quanto tempo ficaremos sentados e a chorar? Por quanto tempo sacrificarão os nossos filhos no altar desta guerra eterna? A segurança de Israel significa ocupar Gaza? A segurança de Israel significa colocar soldados em risco de morte numa guerra desnecessária?”, questionou, Einav, mãe de Matan Zangauker, raptado pelo Hamas nos ataques no kibutz de Nir Oz, num grito replicado por um coro de dezenas de pessoas que se juntaram ao protesto das acorrentadas: “Basta!”

“Esta cena não é um filme de terror, esta é a minha vida”, declarou Bar, filha de Manny Godard, um dos 251 reféns levados pelo grupo islamita há quase dois anos e que foi entretanto assassinada, pedindo a devolução do corpo do seu pai, ainda retido no enclave palestiniano, para que possa ser sepultado junto da mãe e também que “nenhuma outra família tenha de se juntar à fileira dos enlutados”.

Mas não são só mães que fazem parte do protesto em frente à residência do primeiro-ministro de Israel. Haggai Angrest, pai de Matan Angrest, descreve como o filho foi raptado do seu tanque em chamas nos ataques de 7 de outubro na base militar de Nahal Oz: “após mais de duas horas de luta contra a brutalidade do Hamas” e de que ficou o único sobrevivente da tripulação do blindado.

“Sabemos que está vivo, mas em muito mau estado”, lamenta o pai do militar, contando que Matan foi sujeito a “espancamentos brutais” de uma multidão em fúria no momento do rapto e depois sujeito a atos de tortura nos túneis do enclave.

“Hoje estou aqui para pedir ao primeiro-ministro para libertar todos os nossos 48 irmãos”, apela Haggai Angrest.

“Antes de mais, tenho vergonha do meu país e do que estamos a fazer a outras pessoas e quero que o mundo saiba que somos contra a guerra”, declara outra manifestante, Michal Adiri Alouche, uma psicóloga que não tem nenhum familiar nos túneis do Hamas, mas preserva a certeza de que nem todos os habitantes da Faixa de Gaza seguem o grupo radical palestiniano, tal como nem todos os israelitas apoiam “que se mate crianças” na ofensiva no território.

Após os massacres de 7 de outubro no sul de Israel, onde além de 251 reféns, as milícias palestinianas fizeram cerva de 1200 mortos, mais de 64 mil pessoas morreram em quase dois anos na operação de retaliação na Faixa de Gaza, segundo as autoridades do enclave controladas pelo Hamas.

*Com Lusa.