Blue Origin ultrapassa SpaceX num marco crucial para ir à Lua e a Marte: evaporação zero

A Blue Origin, empresa de Jeff Bezos, alcançou um marco tecnológico fundamental para as futuras viagens espaciais de longa duração, posicionando-se à frente da SpaceX num aspeto crítico da exploração da Lua e de Marte. Falamos da evaporação zero.


Blue Origin resolve o combustível que “desaparece” no espaço

Um dos maiores desafios para uma missão tripulada a Marte não reside na distância ou no tempo de viagem, mas sim no armazenamento de combustível. A NASA estima que seriam necessárias dezenas de toneladas de propelente criogénico, como hidrogénio e oxigénio líquidos, para uma única viagem.

O problema é que, no vácuo do espaço, estes líquidos ultra-frios tendem a aquecer e a evaporar gradualmente, mesmo em tanques isolados.

Este fenómeno, conhecido pelo termo técnico boil-off, gera um aumento de pressão dentro do depósito. Para evitar uma falha catastrófica, o gás resultante tem de ser libertado para o espaço, o que representa uma perda contínua e significativa de combustível.

Numa missão de meses ou anos, isto pode inviabilizar a viagem. Por isso, a criação de uma tecnologia de “evaporação zero” tornou-se um requisito indispensável para operar para lá da órbita terrestre baixa.

A Blue Origin anunciou um avanço crucial neste campo. A empresa comunicou ter conseguido manter oxigénio e hidrogénio líquidos em condições de evaporação nula, utilizando hardware protótipo em testes realizados em terra. O anúncio foi feito pelo seu CEO, Dave Limp, no âmbito do programa Lunar Permanence, que visa desenvolver tecnologias para uma presença sustentada na Lua.

Este feito é notável: conservar hidrogénio a 20 kelvin (-253 °C) e oxigénio a 90 kelvin (-183 °C) sem perdas é um enorme desafio técnico. Com esta comunicação, a Blue Origin torna-se, tanto quanto se sabe, na primeira empresa privada a declarar publicamente ter atingido a condição de evaporação zero com estes propelentes.

A física por detrás da evaporação zero

Manter combustível sem perdas no espaço é uma batalha contra as leis da termodinâmica. Nenhum isolamento é perfeito, pelo que a solução passa por sistemas de arrefecimento ativos. A NASA tem investigado duas abordagens principais: a injeção de microgotas e o jato subarrefecido.

Este último, já testado em microgravidade, consiste em direcionar um jato do próprio líquido, mas mais frio, para a zona do tanque onde o vapor se acumula. Ao fazê-lo, o vapor condensa, a pressão diminui e evita-se a necessidade de libertar gás.

A Blue Origin não especificou qual o método utilizado, mas as evidências apontam para o jato subarrefecido, uma tecnologia cuja complexidade e comportamento em microgravidade foram estudados em detalhe pela NASA através de experiências como o programa ZBOT na Estação Espacial Internacional.

A SpaceX, embora não tenha anunciado uma solução de evaporação zero, está a trabalhar intensamente no problema. Em colaboração com a NASA, a empresa de Elon Musk desenvolveu uma arquitetura focada na redução da evaporação para a sua nave Starship. Em março de 2025, a Starship demonstrou com sucesso a transferência interna de oxigénio líquido no espaço, um passo essencial para o reabastecimento em órbita.

Contudo, existe uma diferença fundamental entre as duas empresas. A SpaceX utiliza metano e oxigénio líquidos, enquanto a Blue Origin aposta no hidrogénio e oxigénio líquidos. O hidrogénio líquido é muito mais difícil de manusear: tem de ser mantido a uma temperatura significativamente mais baixa, é menos denso e mais propenso a fugas.

Portanto, alcançar a evaporação zero com hidrogénio é considerado um desafio técnico superior, o que torna o avanço da Blue Origin particularmente significativo.

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