Bolsonaro, defensor da ditadura que se tornou Presidente é condenado por tentativa de golpe de Estado

Foi condenado na Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal por tentativa de abolição violenta do Estado de Direito Democrático, golpe de Estado, participação em organização criminosa armada, dano qualificado e deterioração de património. Foi ainda condenado de liderar a organização criminosa.

“Não houve golpe militar em 1964. Quem declarou vago o cargo do Presidente na época foi o parlamento. Era a regra em vigor”, disse Jair Bolsonaro, já enquanto candidato à presidência da República, em julho de 2018, citado pela Revista Veja.

O momento mais marcante terá sido, contudo, durante a votação da destituição da então Presidente Dilma Rousseff, em 2016, na Câmara dos Deputados: “pela memória do coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra, o pavor de Dilma Rousseff (…), o meu voto é sim”, disse, fazendo alusão ao facto de Dilma ter sido presa em 1970 e submetida a torturas em São Paulo no Centro de Operações de Defesa Interna chefiado por Carlos Alberto Brilhante Ustra.

Nascido em 1955 em Campinas, perto de São Paulo, de uma família de origem italiana, Jair Bolsonaro teve uma carreira militar marcada por episódios de insubordinação.

Ganhou notoriedade no espaço público durante a recessão económica do Brasil, que eclodiu entre os anos de 2015 e 2016, ao mesmo tempo que as lideranças políticas tradicionais do país foram apanhadas em escândalos de corrupção, como a prisão de Luiz Inácio Lula da Silva, atual Presidente.

Considerado “mito” pelos seus apoiantes, Bolsonaro, de 70 anos, foi eleito vereador do Rio de Janeiro pelo Partido Democrata Cristão, em 1988, e tornou-se deputado federal em 1991, cargo que exerceu até vencer as presidenciais de 2018 contra Fernando Haddad.

A prisão de Lula da Silva, em abril de 2018, condenado sob acusação de corrupção passiva e lavagem de dinheiro na ação envolvendo um triplex (em 2021 com a condenação anulada por erros e irregularidades processuais) abriu as portas a Jair Bolsonaro que, surpreendentemente, em 2018, conquistou 55% dos eleitores.

Sob os lemas “deus, pátria, família e liberdade” e “Brasil acima de tudo, deus acima de todos”, Bolsonaro conseguiu a vitória , apoiado pelo agronegócio e pelos evangélicos, mas também por uma classe média que não esqueceu a crise e a corrupção dos governos do Partido dos Trabalhadores (PT).

Mas o que o impulsionou mesmo para a vitória foi em setembro de 2018: a poucas semanas da primeira volta das eleições em Juiz de Fora, Minas Gerais, o então candidato Jair Bolsonaro foi atacado com uma faca, na região do abdómen, numa imagem que correu o mundo e que o levou à vitória.

Em novembro de 2018, logo após vencer as eleições, Jair Bolsonaro anuncia Sérgio Moro, o juiz que julgou e condenou Lula da Silva na Operação Lava Jato, como ministro da Justiça e Segurança Pública, numa escolha que simbolizava a bandeira anticorrupção e `antipetista` do novo Governo chefiado por quem mais tirou proveito político da prisão de Lula da Silva.

Durante o seu mandato de `restauração da ordem` enfrentou cerca de 150 pedidos de impugnação feitos no parlamento e governou multiplicando as crises, à frente de um Governo abalado por numerosas demissões.

Um dos momentos mais conturbados foi a pandemia da covid-19, na qual a falta de empatia, num país onde pelo menos 687.000 pessoas morreram, terá sido umas das principais razões para a sua derrota eleitoral na recandidatura presidencial de 2022.

Recusou-se a ser vacinado, brincou sobre os possíveis efeitos secundários das vacinas, criticou o isolamento social e tal como o Presidente Donald Trump (um dos seus heróis políticos) incentivou ao uso de medicamentos sem eficácia comprovada, como a cloroquina.

“No meu caso particular, pelo meu histórico de atleta, caso fosse contaminado pelo vírus, não precisaria me preocupar, nada sentiria ou seria, quando muito, acometido de uma gripezinha ou resfriadinho”, disse Bolsonaro, entre várias declarações polémicas como ter dito que não era “coveiro”.

Em 2021, uma decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) anulou os processos que levaram à prisão de Lula da Silva e restabeleceu os direitos políticos do histórico político brasileiro.

Com um país partido ao meio e altamente polarizado, Lula da Silva candidatou-se à Presidência do Brasil contra Bolsonaro, em 2022.

Durante a longa campanha, altamente polarizada, Bolsonaro e os seus aliados lançaram duros ataques sobre a credibilidade do processo eleitoral e das urnas eletrónicas.

Depois da vitória, não reconhecida por Jair Bolsonaro, houve uma escalada de ataques de apoiantes do ex-Presidente, que desde o dia seguinte às eleições iniciaram mobilizações para incentivar um golpe contra Lula da Silva.

Bolsonaro nunca reconheceu a derrota, lançou críticas infundadas às urnas eletrónicas, incentivou manifestações de caráter antidemocrático em frente a bases militares e projetou planos para permanecer no poder.

Tudo isto culminou nos ataques em Brasília, em 08 de janeiro de 2023.

Milhares de apoiantes do ex-Presidente invadiram e vandalizaram as sedes do Supremo Tribunal Federal, do Congresso e do Palácio do Planalto, em Brasília, numa tentativa de golpe de Estado para depor Lula da Silva da Presidência.

Bolsonaro foi hoje condenado por tentar um golpe de Estado. O mesmo golpe de Estado que em 1964 se consumou no Brasil e cuja existência sempre negou.