Cápsulas submarinas de dessalinização podem ajudar a resolver as crises hídrica e energética

A crescente procura por água potável e o consumo energético massivo dos centros de dados estão a colocar uma pressão gigante sobre as infraestruturas globais. Uma inovadora tecnologia de dessalinização submarina surge agora como uma potencial solução para enfrentar simultaneamente estas duas crises.


Uma solução que vem das profundezas do oceano

As centrais de dessalinização convencionais são conhecidas pelo seu elevado consumo de energia. A maior parte dessa energia é utilizada para alimentar os sistemas de osmose inversa, que forçam a água do mar a passar através de uma membrana para remover o sal. No entanto, uma startup californiana, a OceanWell, propõe uma abordagem radicalmente diferente que aproveita as forças da própria natureza.

A sua solução consiste em módulos de dessalinização submarinos, ou “pods”, projetados para serem instalados a 400 metros de profundidade no oceano. A esta profundidade, a pressão natural da água é suficiente para impulsionar o processo de osmose inversa, eliminando a necessidade de bombas de alta pressão e reduzindo o consumo energético em cerca de 40%.

Apesar de existirem desafios logísticos, como a manutenção dos equipamentos em alto-mar e o custo de transportar a água potável para a costa, a OceanWell acredita que os benefícios económicos e ambientais superam largamente estas dificuldades.

Subida do nível do mar

Vantagens para além da eficiência energética

A inovação da OceanWell vai muito para além da poupança de energia. Ao colocar a principal infraestrutura no fundo do mar, liberta-se espaço valioso nas zonas costeiras, que são densamente povoadas. Esta abordagem evita longos e complexos processos de licenciamento e construção em terra, que podem atrasar projetos durante décadas.

Um exemplo paradigmático foi o projeto de uma central de dessalinização em Huntington Beach, na Califórnia, que foi chumbado pela Comissão Costeira da Califórnia em 2022, após mais de 20 anos de deliberações, em parte devido à vulnerabilidade do local à subida do nível do mar.

Outra vantagem significativa é a gestão da salmoura, o subproduto concentrado em sal do processo de dessalinização. Em vez de ser descarregada perto da costa, onde pode prejudicar os ecossistemas marinhos, a salmoura dos módulos da OceanWell é difundida de forma mais eficaz nas correntes de águas profundas.

O projeto da OceanWell já captou o interesse de várias entidades importantes. A Marinha dos EUA, sempre à procura de soluções eficientes para obter água potável em missões longas e em bases remotas, disponibilizou as suas instalações de simulação de águas profundas para testar as primeiras versões do sistema.

Após testes bem sucedidos num reservatório em terra para avaliar a eficiência do seu sistema de captação de água num ambiente com biodiversidade, a empresa está pronta para avançar. O projeto inicial, denominado “Water Farm 1“, previa a produção de cerca de 37,8 milhões de litros de água por dia.

No entanto, com a adesão de mais seis distritos de água, o projeto foi ampliado para uma capacidade de 226,8 milhões de litros por dia. Para atingir esta meta, a Water Farm 1 será composta por dezenas de módulos localizados na Baía de Santa Mónica, a aproximadamente 7 quilómetros da costa de Malibu.

A principal prioridade da OceanWell é, naturalmente, o fornecimento de água potável para consumo humano, ajudando a aliviar a pressão sobre fontes sobre-exploradas como o rio Colorado. No entanto, o potencial desta tecnologia não acaba aqui.

A água dessalinizada poderia ser utilizada para arrefecer centros de dados, que consomem enormes quantidades de água doce, aliviando assim o stress hídrico em terra. Outra aplicação promissora seria a produção de hidrogénio verde através da eletrólise da água,  que abre portas para uma nova fonte de energia limpa.

Desta forma, os módulos submarinos poderiam não só saciar a nossa sede de água, mas também a crescente fome de energia sustentável.

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