Numa demonstração de força tecnológica e estratégica, a China delineou um plano para se tornar uma potência global no campo das interfaces cérebro-computador (BCI, originalmente). O objetivo é claro: rivalizar diretamente com empresas pioneiras como a Neuralink de Elon Musk.
A estratégia governamental da China para a liderança em BCI
O governo chinês, através de uma diretiva conjunta emitida por sete ministérios, incluindo o influente Ministério da Indústria e Tecnologias de Informação, estabeleceu metas claras para o futuro da tecnologia BCI no país. O plano visa alcançar avanços significativos nas tecnologias-chave e estabelecer uma infraestrutura industrial robusta até 2027.
A ambição final, no entanto, é mais audaciosa: até 2030, a China pretende ter desenvolvido “duas a três” gigantes globais no setor, capazes de competir em pé de igualdade com os líderes ocidentais.
Apesar de o documento oficial não nomear empresas específicas, o seu compromisso em fomentar estes campeões nacionais, bem como um ecossistema de startups inovadoras, conhecidas como “pequenos gigantes” e “unicórnios”, enviou um sinal inequívoco aos mercados e à indústria. Trata-se de uma aposta estratégica para transformar a tecnologia BCI num pilar da economia chinesa.
Resposta imediata dos mercados financeiros
A reação dos investidores não se fez esperar. O anúncio governamental gerou uma onda de otimismo nos mercados de capitais, impulsionando as ações de empresas ligadas ao setor. Em Hong Kong, os títulos da Nanjing Panda Electronics dispararam mais de 19%, enquanto a MicroPort NeuroScientific registou uma subida de 8%.
O mesmo entusiasmo foi visível na bolsa de Xangai, onde a Xiangyu Medical valorizou mais de 11% e a Jiangsu Apon Medical Technology cresceu perto de 8,5%. Estes movimentos demonstram a confiança do mercado no potencial desta iniciativa estatal.
Este impulso governamental não se limita a documentos e metas. A iniciativa chinesa representa um apoio prático e significativo à tecnologia BCI, que já se materializa em ações concretas. Por todo o país, diversas cidades e universidades estão a conduzir ensaios clínicos relacionados com BCI.
Em junho, uma equipa da Universidade de Nankai, na cidade portuária de Tianjin, no norte do país, afirmou ter realizado a primeira experiência intervencionista de BCI em humanos, ajudando com sucesso uma pessoa hemiplégica a recuperar a função motora num membro afetado.
A equipa afirmou que, quando comparada com o primeiro ensaio clínico da Neuralink de um implante invasivo de dispositivo BCI em janeiro de 2024, a operação chinesa apresentava vantagens como trauma reduzido, maior precisão na aquisição de sinais e tempos de recuperação mais curtos.
Em fevereiro, a empresa StairMed, sediada em Xangai, angariou 350 milhões de yuans (42 milhões de euros) naquela que considerou a maior ronda de financiamento de sempre para uma startup chinesa de BCI. Para efeito de comparação, a Neuralink concluiu uma ronda de financiamento de 557 milhões de euros em junho, avaliando a empresa em cerca de 7,7 mil milhões de euros.
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