China tem uma alternativa à Uber interessante: contratar um motorista para o seu próprio carro

Na China, uma inovadora alternativa aos serviços de transporte como a Uber e os táxis está a ganhar uma popularidade imensa. O conceito é simples: em vez de chamar um carro com motorista, o utilizador solicita apenas um motorista para conduzir a sua própria viatura.


A ascensão do serviço dàijià: um motorista para o seu carro

Imagine o seguinte cenário: após um jantar de negócios ou uma saída à noite com amigos, necessita de regressar a casa no seu próprio carro, mas não está em condições de o fazer. Na China, a solução está à distância de um clique numa aplicação.

Através de um serviço conhecido como dàijià, que se traduz como “condutor designado”, o utilizador solicita um motorista profissional que se desloca até à sua localização para conduzir o seu veículo.

O processo é de uma simplicidade e eficácia notáveis. O cliente abre a aplicação, que utiliza a geolocalização para determinar o seu ponto de encontro, e submete o pedido. Em poucos minutos, um motorista chega para assumir o volante e levar o cliente e o seu automóvel até ao destino pretendido. Este modelo de negócio, presente no país há vários anos, transformou-se num fenómeno de massas.

Um dos aspetos mais curiosos e eficientes deste serviço é a forma como os motoristas se deslocam entre serviços. Habitualmente, chegam ao local de recolha numa trotinete elétrica dobrável ou numa bicicleta compacta. Ao encontrar o cliente, o condutor dobra a sua trotinete e arruma-a na mala do veículo.

Concluído o trajeto, o carro é devidamente estacionado, o motorista retira a trotinete da mala e segue viagem para o seu próximo cliente.

Trotineta elétrica

Uma resposta a um dilema social na China

A popularidade do dàijià está intrinsecamente ligada a fatores culturais e legais da China. Desde 2011 que a legislação chinesa impõe penalizações muito severas para a condução sob o efeito do álcool, incluindo multas pesadas, suspensão da carta de condução e até penas de prisão.

Esta abordagem de tolerância zero colide com uma prática social profundamente enraizada, especialmente no mundo empresarial, onde o consumo de bebidas alcoólicas é visto como uma ferramenta para fortalecer relações de confiança e laços comerciais.

O tradicional brinde chinês, “Ganbei”, que significa literalmente “copo seco”, incentiva os participantes a esvaziar o copo, sendo este gesto considerado um sinal de respeito. Este serviço surge, assim, como a solução ideal para resolver o conflito entre as obrigações sociais e a responsabilidade de não conduzir após ter bebido.

A eficácia desta solução reflete-se nos dados oficiais. Um comunicado recente do Ministério da Segurança Pública da China revelou uma queda acentuada no número de acidentes de viação fatais na última década. Li Jiangping, diretor do Gabinete de Gestão de Tráfego, sublinhou que esta melhoria é ainda mais notável considerando que, desde 2011, o número de veículos motorizados aumentou 89% e o de condutores 123%.

Segundo o ministério, o número de acidentes com três ou mais vítimas mortais diminuiu 59,3% desde 2012. O mesmo comunicado atribui parte deste sucesso ao facto de “a maioria das pessoas optar por utilizar serviços de condutores designados depois de beber, com o número de pedidos a atingir uma média anual de 200 milhões”.

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