Recuar no tempo à escala macroscópica não é possível, mas com partículas subatómicas sim. Foi o que demonstrou uma equipa de especialistas em física quântica num estudo sem precedentes.
Viajar no tempo subatómico
No mundo físico macroscópico em que vivemos, todos temos de arcar com os nossos erros.
Não é a primeira vez que falamos na hipótese de recuar no tempo, mas a realidade é que é impossível e, quanto mais depressa o aceitarmos, melhor. No entanto, se fôssemos partículas subatómicas, a história seria outra, já que uma equipa de cientistas da Universidade de Viena e da Academia Austríaca de Ciências descobriu que no mundo quântico será possível recuar no tempo.
Isto deve-se à dualidade que as partículas costumam apresentar neste mundo quântico. Todos já ouvimos falar da experiência mental do gato de Schrödinger, no qual um gato está vivo e morto ao mesmo tempo devido ao facto de as partículas que deveriam partir o frasco de veneno na sua caixa poderem ter estados sobrepostos e atravessá-lo ou não.
Neste caso, utiliza-se uma espécie de interruptor quântico, através do qual é possível atuar sobre todas as trajetórias possíveis de uma partícula e selecionar uma que, aparentemente, já aconteceu.
Isto não poderá ser levado à escala macroscópica. Por isso não podemos recuar no tempo para desfazer os nossos erros. Mas, se a experiência puder ser replicada, poderá ajudar a tirar ainda mais partido dos famosos computadores quânticos, já que os seus erros, sim, poderão ser desfeitos.
Estas descobertas têm um grande futuro pela frente. Ou por trás, dependendo da perspetiva.
Como funciona o interruptor para recuar no tempo?
O interruptor quântico desenvolvido por estes cientistas analisa todos os estados pelos quais passa um fotão de luz ao deslocar-se através de um cristal. Depois, seleciona qualquer um deles, mesmo que já tenha ocorrido anteriormente.
Isto não é como rebobinar um filme, já que não se pode observar.
Quando rebobinamos um filme vemos as imagens em câmara rápida diante dos nossos olhos, a moverem-se para trás. Neste caso, simplesmente regressa-se a um estado anterior, mas não se pode desfazer o caminho pelo simples motivo de que em física quântica a mera observação de um sistema faz com que este mude. Por isso Schrödinger dizia que o gato estaria vivo ou morto enquanto a caixa não fosse aberta.
No momento em que a abríssemos e observássemos o seu interior, a sobreposição das partículas em vários estados ao mesmo tempo desfazer-se-ia e tudo se inclinaria apenas para um estado.
Aqui, se olhássemos para o processo, tudo se alteraria e não seria possível chegar a esse ponto anterior. Com o interruptor quântico procura-se simplesmente que o sistema se incline para um ponto que já aconteceu.
O futuro dos computadores quânticos
Graças a esta capacidade de recuar no tempo quântico, será possível reverter erros à escala subatómica. Os computadores quânticos, capazes de gerir imensa informação em simultâneo, tornar-se-iam ainda mais eficientes.
Isto representará também um grande avanço para a inteligência artificial, uma vez que os computadores quânticos são essenciais para levar a aprendizagem automática a outro nível. Os benefícios em áreas como a modelização climática ou a procura de novos fármacos serão imensos.
Portanto, ainda que continuemos sem poder desfazer o momento em que aceitámos sair com aquela relação tóxica ou rejeitámos aquele emprego que, no fundo, até nos teria agradado, recuar no tempo quântico também pode ser muito benéfico para nós. Nada mau.