Cimeira do Alasca: Moscovo desvia as atenções do tema da Ucrânia

Há duas visões eventualmente opostas sobre a cimeira que tem início marcado para as 20h30 (hora de Lisboa): de um lado a Europa, que quer ver conclusões sobre a guerra na Ucrânia e do outro a Rússia, que parte para um encontro entre duas potências nucleares.

epa12303523 US President Donald Trump (R) welcomes Russian President Vladimir Putin during their meet to negotiate at Joint Base Elmendorf-Richardson in Anchorage, Alaska, USA, 15 August 2025. EPA/SERGEY BOBYLEV/SPUTNIK/KREMLIN POOL / POOL MANDATORY CREDIT

Num contexto em que o poder russo só se pronuncia oficialmente depois de o presidente Vladimir Putin se inteirar do seu alinhamento, Leonid Slutsky, presidente do Comité de Assuntos Internacionais da Duma Estatal (o parlamento russo), acredita que o encontro entre Vladimir Putin e Donald Trump no Alasca será evento histórico marcante: “as negociações no Alasca têm todas as hipóteses de se tornarem um marco histórico. Rússia e Estados Unidos são duas potências nucleares líderes, e a natureza da sua interação determina em grande parte a estabilidade e a segurança global”, afirmou.

Aquele destacado agente político disse estar “confiante de que a mais ampla gama de questões será abordada com o objetivo de restaurar um diálogo russo-americano completo”, escreveu nas redes sociais. E expressou esperança por uma “discussão construtiva sobre os contornos do acordo ucraniano”.

Não é a primeira declaração que, vinda de responsáveis russo, segue exatamente no mesmo sentido: a cimeira do Alasca dar-se-á entre duas potências nucleares que há muito se conhecem e que regressam a um contexto com que estão habituadas, historicamente, a lidar. Dito de outra forma: no meio do debate alargado, o tema da Ucrânia será certamente abordado, mas nada indica que esteja no topo da agenda. Pelo menos da de Moscovo, certamente que não está.

Recorde-se que, a 7 de agosto, o assessor presidencial russo Yury Ushakov, afirmou que a Rússia e os Estados Unidos haviam concordado com um encontro entre os líderes dos dois países – e nesse mesmo dia Vladimir Putin confirmou a preparação de um encontro com Trump, indicando interesse mútuo num encontro bilateral. A última visita de Putin aos Estados Unidos foi em 2015.

Do lado europeu – que não estará presente, assim como a própria Ucrânia – o foco é completamente diverso: a cimeira terá como tema principal a paz na Ucrânia e os países europeus acreditam que o próximo passo, se tudo correr bem, será uma cimeira a realizar na Europa e em que estarão os presidentes ucraniano, Vilodymyr Zelensky, e russo, Vladimir Putin. Não há até agora qualquer certeza de que este encontro venha a acontecer – e Donald Trump foi pouco preciso sobre a matéria: disse apenas que esse encontro acontecerá se tudo correr bem no Alasca ou então não acontecerá. Nas entrelinhas, os analistas descobrem a possibilidade de, no Alasca, a questão ucraniana não correr bem, o que não quererá necessariamente dizer que o resto da agenda, desconhecida, tenha também de correr mal.

Entretanto, o presidente francês Emmanuel Macron planeia encontrar-se com Vladimir Zelensky após a cimeira, informou o canal de televisão TF1 , citando o Palácio do Eliseu. Segundo o governo, o encontro de Macron com Zelensky será organizado “quando for mais oportuno e eficaz, após a cimeira do Alasca e dependendo” das conclusões que lá acontecerem. Os dois mantêm “diálogo próximo e permanente”.