O desenvolvimento da Inteligência Artificial (IA) vai impactar o mundo de várias formas, sendo algumas delas mais óbvias do que outras. Por exemplo, nos Estados Unidos, o crescimento da tecnologia refletir-se-á nas faturas de eletricidade dos residentes.
Os clientes da maior operadora regional de rede elétrica dos Estados Unidos deverão ver as suas faturas de eletricidade aumentarem no próximo ano, em grande parte, devido ao aumento vertiginoso da procura por eletricidade proveniente dos centros de dados de IA.
A previsão surge depois de, na semana passada, a PJM Interconnection ter encerrado o seu leilão anual com preços de capacidade elétrica para o retalho 22% acima de 2024, outro ano recorde.
Todos os anos, o leilão de verão da PJM determina o custo da eletricidade para o mercado retalhista para o ano seguinte. Embora o seu território não abranja todos os estados, a indústria energética considera o leilão da PJM como um indicador dos preços da eletricidade para todo o país.
Como resultado do leilão deste ano, o Business Insider cita que as faturas de eletricidade mensais no território da PJM, que reúne 67 milhões de clientes, poderão aumentar até 5% no próximo ano.
A área operada pela PJM abrange 13 estados do Centro-Oeste à Costa Leste, incluindo todo ou parte de Delaware, Indiana, Illinois, Kentucky, Maryland, Michigan, Nova Jersey, Carolina do Norte, Ohio, Pensilvânia, Tennessee, Virgínia, Virgínia Ocidental e Washington.
Especificamente, o território da PJM inclui o Data Center Alley, na Virgínia do Norte, que abriga a maior concentração de centros de dados do mundo, e inclui áreas do país onde os centros de dados estão em rápida expansão, como Columbus, em Ohio.
Segundo o operador da rede, a expansão dos centros de dados como o principal impulsionador da procura no seu território causou o aumento dos preços da eletricidade no retalho.
De acordo com o Bank of America Institute, após uma década de pouco ou nenhum crescimento, a procura de eletricidade nos Estados Unidos deverá crescer 2,5% ao ano até 2035, largamente impulsionada pelos centros de dados.
Segundo o conselheiro do povo de Maryland, David Lapp, “a regulamentação dos serviços públicos não está a proteger os clientes residenciais, contribuindo para uma crise de acessibilidade energética”.
Na sua opinião, “estamos a assistir a uma transferência em massa de riqueza dos clientes residenciais de serviços públicos para grandes empresas, [isto é] centros de dados e grandes empresas de serviços públicos e as suas empresas-mãe, que lucram com a construção de infraestruturas energéticas adicionais”.
Centros de dados em Portugal
Em Portugal, apesar de ainda não representarem um problema para a fatura de eletricidade dos clientes, os centros de dados integram a estratégia de crescimento do país.
Segundo a PortugalDC, Portugal tem perspetiva de captar mais de 12 mil milhões de euros de investimento nos próximos cinco anos no setor dos centros de dados, sendo cerca de 80% dedicado a infraestruturas de alta densidade para IA.
Atualmente, existem mais de 30 centros de dados, em Portugal, maioritariamente nas regiões de Lisboa e Porto, que concentram cerca de 67% do mercado nacional.
O maior complexo é o da Covilhã, da Altice, inaugurado em 2013, com 20 megawatts (MW), 671 servidores, certificação Tier III, e 100% alimentado por fontes de energia renovável. Este projeto está, agora, em processo de venda.
Entretanto, estão outros projetos de centros de dados em curso, como o Atlas Edge, em Carnaxide, com 20 MW, e o Sines Data Center Campus.
Este último, que tem já um edifício inaugurado, com 26 MW de capacidade, ambiciona tornar-se o maior da Europa. Quando estiver concluído, em 2030, terá seis edifícios e uma capacidade de 1,2 gigawatts.
Espera-se que o “investimento extraordinário de 30 mil milhões de euros até 2030”, conforme descrito por Douglas A. Koneff, da Embaixada dos Estadso Unidos em Portugal, atraia as melhores tecnologias para Portugal, e gere milhares de empregos qualificados.