Curiosidade: Como surgiu o código Braille?

O Braille não é apenas um código de leitura e escrita, é uma porta para a autonomia de milhões de pessoas cegas em todo o mundo. Criado no século XIX por Louis Braille, este sistema simples de pontos em relevo transformou para sempre a forma como a informação é partilhada e acessível.


A tragédia que inspirou uma revolução

Louis Braille nasceu em Coupvray, França. Aos três anos, ao brincar na loja do pai, sofreu um ferimento ocular com uma ferramenta pontiaguda e acabou perdendo a visão nos dois olhos, apesar dos cuidados médicos disponíveis na altura.

No século XIX, os cegos liam com letras salientes em relevo, um método lento e difícil de distinguir ao toque. Em 1821, o professor Alexandre François-René Pignier convidou Charles Barbier para demonstrar um sistema tátil de comunicação militar chamado “escrita noturna”.

As diversas variações do sistema de 6 pontos de Braille, suficientes para albergar todo o alfabeto e alguma pontuação.

O objetivo era enviar mensagens no escuro sem fazer barulho. No entanto, este sistema, baseado numa matriz de 12 pontos em relevo, era demasiado complexo, impossível de ser lido com os dedos sem se mover.

A génese do Braille

Inspirado por Barbier, Braille iniciou experiências por volta dos 14–16 anos usando ardósia, punção e papel.

Em 1824, já com apenas 15 anos, desenvolveu um sistema mais simples: células de seis pontos (três por coluna), capazes de formar até 64 combinações, suficientes para letras, pontuação e mais.

O professor Pignier apoiou o método e começou a usá-lo com os alunos. Infelizmente, isso levou à sua despromoção. Apesar disso, Braille tornou-se professor na mesma instituição, difundindo o código.

Em 1829 publicou o seu sistema, com explicações e exemplos em Braille. Contudo, o Instituto só o adotou oficialmente em 1854, dois anos após a morte de Braille.

Sabia que…?

O Braille nasceu de um código militar
Foi inspirado num sistema secreto usado por soldados franceses para comunicar no escuro.

Apenas seis pontos criam 64 símbolos
Combinando os pontos em relevo é possível representar letras, números e pontuação.

É um alfabeto universal
Apesar de adaptações linguísticas, a estrutura básica do Braille é a mesma em todo o mundo.

A leitura em relevo era muito lenta
Antes do Braille, os cegos usavam livros com letras salientes. O novo sistema tornou a leitura muito mais rápida.

Existe Braille para música e matemática
Louis Braille desenvolveu códigos próprios para notação musical e fórmulas matemáticas.

Foi criado por um jovem de 15 anos
Louis Braille era adolescente quando concluiu o sistema.

Só foi reconhecido depois da sua morte
Em França, o Braille foi adotado oficialmente em 1854, dois anos após a morte do seu criador.

Expansão global

Até ao final do século XIX, o Braille tinha-se espalhado pela maioria dos países. Nos Estados Unidos, foi adotado apenas em 1916. No mundo anglo-saxónico, o Braille de grau 2 foi consolidado em 1932 como padrão.

Atualmente o Braille continua a ser o sistema padrão de leitura e escrita tátil. Em língua inglesa existe o Braille de grau 2, que inclui abreviaturas e contrações para tornar a leitura mais rápida e compacta.

O grau 1 preserva tudo escrito por extenso, enquanto o grau 3 introduz abreviações menos sistematizadas.

Em português, incluindo o português de Portugal, o que está oficialmente em uso é o Braille integral, também chamado Braille de grau 1. Nesse nível, cada letra, número ou sinal de pontuação corresponde a uma combinação própria de pontos, sem abreviações nem contrações. É o sistema ensinado às crianças cegas em idade escolar e usado em livros, embalagens, sinalética pública e documentos oficiais.

Além disso, Braille desenvolveu um sistema chamado decaponto, mais parecido com as letras do alfabeto tradicional, e participou na criação de um “rafígrafo”, uma máquina criada com Pierre-François-Victor Foucault para facilitar a escrita do decaponto.

Em Portugal, a principal associação ativa nesta área é a ACAPO.

Em resumo…

O Braille provou que a limitação pode ser transformada em oportunidade. Criado por um jovem que perdeu a visão na infância, este sistema abriu caminho para a educação, cultura e independência de milhões de pessoas em todo o mundo.

Mais de 200 anos depois, continua a ser uma ferramenta insubstituível de inclusão e acesso ao conhecimento.