
O atual Governo francês tem tido como uma das principais missões a redução do défice público que tem derrapado nos últimos anos e atingiu 5,8% do PIB em 2024. Para este ano, está previsto um défice de 5,4%, mas o Executivo espera que, com as medidas propostas no orçamento, desça para 4,6% no próximo ano. O objetivo é atingir um défice de 2,8% em 2029, abaixo dos 3% estabelecidos no Pacto de Estabilidade e Crescimento da União Europeia.
Para isso, o Governo pretende incluir no próximo orçamento do Estado cortes no valor de 44 mil milhões de euros, com propostas que têm sido alvo de críticas da oposição, aliados e opinião pública. Uma das medidas mais polémicas é o fim de dois feriados: o da Páscoa e o 8 de maio, data que marca o fim da Segunda Guerra Mundial. O plano inclui ainda o congelamento de algumas prestações sociais e cortes nos programas sociais.
O primeiro-ministro francês anunciou a 25 de agosto que vai submeter-se a um voto de confiança no Parlamento devido à proposta de orçamento do Estado. Durante uma conferência de imprensa, François Bayrou insistiu que é necessário um esclarecimento sobre a situação orçamental e a forma de a corrigir, e que o lugar para o fazer é “o Parlamento” e não “na desordem das ruas”.
A moção de confiança vai ser votada a 8 de setembro. Se o primeiro-ministro não passar no Parlamento e uma vez que os centristas e conservadores que o apoiam não têm maioria absoluta, terá de se demitir ao fim de nove meses no cargo e haverá uma nova crise governamental. Apesar disso, Bayrou defende que seria mais arriscado não fazer nada.
Com a instabilidade política e o orçamento em risco, o anúncio da moção de confiança apanhou os mercados financeiros de surpresa. O CAC-40, o principal índice bolsista, caiu com a banca e o setor financeiro a serem especialmente afetados devido ao risco de contágio face à dívida e de desaceleração da economia. Os juros da dívida francesa a dez anos, a maturidade de referência, atingiram o nível mais elevado desde março.
O cenário de mais uma crise política em França, com a possibilidade de um segundo Governo cair em menos de um ano, está a fazer com que os investidores se afastem dos ativos de risco do país.
Entretanto, o ministro das Finanças francês, Éric Lombard, teve de serenar os ânimos e numa publicação na rede social X, assegurou que o país “não está sob ameaça de intervenção, nem do FMI, nem do BCE nem de qualquer organização internacional”.
Em fevereiro, François Bayrou conseguiu ver aprovado o Orçamento do Estado para 2025, culminando um processo tumultuoso de vários meses que levou mesmo à queda do anterior primeiro-ministro, Michel Barnier.