Desflorestação explica porque chove muito menos na Amazónia

Investigadores do Brasil e do Instituto Max Planck de Química, na Alemanha, quantificaram, com esta conclusão, os diferentes impactos da desflorestação local e das alterações climáticas globais no clima da região amazónica, num estudo publicado na Nature Communications, noticiou na segunda-feira a agência Europa Press.

A floresta da Amazónia é a maior do planeta e desempenha um papel fundamental no sistema climático global.

No entanto, nas últimas décadas, têm sido observadas alterações significativas nos ciclos hídrico, do carbono e da energia na região amazónica, influenciando, por exemplo, os níveis de precipitação.

Estudos anteriores não conseguiram diferenciar quantitativamente a contribuição dos dois principais fatores, o aumento da temperatura global provocado pelas emissões de gases com efeito de estufa e o aumento da desflorestação local.

Luiz Machado, investigador climático da Universidade de São Paulo e autor do novo estudo, sublinhou na revista Nature Climate Change que “a desflorestação explica quase 75% da redução da precipitação (na estação seca)”.

“Portanto, mesmo pequenas alterações na precipitação durante a estação seca podem ter um impacto desproporcional na saúde da vegetação”, vincou.

Na estação seca, ocorrem apenas 26% da precipitação média, totalizando 281 milímetros, em comparação com 1.097 milímetros durante a estação das chuvas.

Segundo os investigadores, a desflorestação também explica aproximadamente 16% do aumento de 2 graus Celsius na temperatura.

No entanto, uma proporção muito maior, aproximadamente 84% do aumento da temperatura, é atribuível às alterações climáticas globais.

O estudo indicou ainda que o clima da Amazónia não responde linearmente à desflorestação, dado que as alterações climáticas mais severas ocorrem nas fases iniciais do processo, especialmente quando se perde entre 10% e 40% da floresta.

“É importante travar a desflorestação para preservar a resiliência climática da região da Amazónia”, acrescentou Luiz Machado, que também trabalha como cientista visitante no Instituto Max Planck de Química, em Mainz.

No seu estudo, os investigadores analisaram dados de 29 regiões da Amazónia brasileira, recolhidos nos últimos 35 anos (1985 a 2020) através de medições atmosféricas e de satélite.

Utilizando dados de longo prazo e técnicas estatísticas especializadas (parametrização), conseguiram distinguir com sucesso os impactos da desflorestação dos das alterações climáticas globais.

A equipa brasileira e alemã concluiu que mais de 99% do aumento dos gases com efeito de estufa, como o metano e o dióxido de carbono, se deve às alterações climáticas globais.

No entanto, a desflorestação é responsável por uma pequena parcela do aumento de CO2, de 0,3%.

O estudo analisa também o clima futuro da região da Amazónia em 2035 e Christopher Pöhlker, do Instituto Max Planck de Química, alertou que “se a desflorestação continuar ao ritmo atual, os dados indicam que pode ocorrer um aumento adicional da temperatura de aproximadamente 0,6 °C e uma redução significativa da precipitação de cerca de sete milímetros durante a estação seca, em comparação com a atual”.