
Vivemos tempos em que a política parece ser movida pela emoção: medo, raiva, esperança e ressentimento marcam discursos, polarizam sociedades e mobilizam eleitores. Este fenómeno pode parecer novo, mas não o é. Na Roma Antiga, as emoções eram um elemento central da vida política. Não um acaso, mas uma estratégia – um reflexo conturbador da atualidade.
A política romana estava longe de ser um espaço puramente racional. As emoções eram deliberadamente exploradas para conquistar apoio, silenciar opositores ou reforçar a autoridade. A violência não era apenas um subproduto do conflito político, mas, muitas vezes, uma ferramenta com objetivos claros: aterrorizar, controlar e manipular perceções. Leis que puniam quem ajudasse os proscritos institucionalizavam o medo, convertendo-o numa emoção pública e funcional. Ainda assim, nem sempre o medo cumpria os seus propósitos. Afinal, mesmo os regimes mais brutais enfrentavam limites na eficácia da intimidação.
Também nas eleições, as emoções desempenhavam um papel decisivo. O medo da derrota – denominada repulsa – exercia uma poderosa influência sobre as ações dos candidatos. Esse medo impulsionava-os a agir contra os seus oponentes, tudo para garantir a tão almejada vitória. Candidatos e eleitores navegavam um campo emocional intenso, em que a gestão dos afetos podia ditar vitórias e derrotas. Fora do contexto eleitoral, os líderes observavam atentamente as reações das multidões nos espetáculos públicos, onde o aplauso ou a vaia funcionavam como termómetro da opinião coletiva e, por vezes, como aviso político.
Mesmo em tempos de paz, o medo continuava a ser cultivado como mecanismo de dominação. A célebre máxima “Oderint dum metuant” – “que odeiem, desde que temam” – resume bem esta lógica de poder: a autoridade não dependia da simpatia, mas da submissão. Governar através do temor era não só aceite, mas considerado eficaz. O medo tornava-se um instrumento político legítimo, reforçado por mensagens oficiais e por uma retórica que mitificava a ordem e diabolizava o caos. Até a poesia de louvor servia, muitas vezes, para cristalizar este clima emocional, utilizando o medo como valor cívico e como sinal de liderança forte.
Tudo isto ecoa no presente. Estratégias baseadas na exploração do medo ou do ressentimento não são uma invenção moderna. Já os romanos dominavam a arte de manipular as emoções como parte da governação. E essa consciência histórica pode tornar-nos cidadãos mais atentos e recetores mais críticos das mensagens políticas.
Longe de serem relíquias irrelevantes, os Estudos Clássicos e Humanísticos – nos quais se insere a Roma Antiga –, oferecem uma compreensão fundamental da natureza humana, da sociedade e das dinâmicas de poder que continuam a ser pertinentes. Fornecem contexto, perspetiva e pensamento crítico – competências essenciais para navegar na complexidade do século XXI. É um lembrete poderoso de que o coração humano da política continua a bater com os mesmos ritmos antigos. E que, ao compreendermos esses ritmos, talvez possamos estar mais bem preparados para construir um futuro mais racional e menos emocionalmente volátil.