
Durante décadas, olhámos para a produção de alimentos como um dado adquirido, mas os últimos anos mostraram-nos que não podemos dar a alimentação por garantida: incompatibilidades geopolíticas, surtos pandémicos, crises energéticas, secas prolongadas e intempéries extremas provocadas pelas alterações climáticas fazem-nos rapidamente compreender a fragilidade das cadeias de abastecimento.
Não há segurança sem segurança alimentar. Não há independência sem capacidade produtiva. Por isso, a rentabilidade económica das explorações agrícolas são uma questão central para o crescimento da economia portuguesa e para o desenvolvimento do País.
Portugal tem dado passos firmes neste caminho de afirmação do setor Agrícola e Florestal como eixo fundamental do desenvolvimento económico e do País. É verdade que o número de explorações agrícolas diminuiu nas últimas décadas – eram mais de 415 mil em 1999 e são hoje cerca de 261 mil –, mas isso não significa declínio. Significa transformação e produtividade. As explorações são hoje maiores, mais técnicas e mais profissionais. A dimensão média duplicou neste período: passou de 9,3 hectares em 1999 para 14,8 hectares em 2023, refletindo uma agricultura que se reorganizou para ser mais eficiente e mais competitiva.
Quem acompanha de perto o setor vê esta mudança em cada detalhe. Os agricultores modernizam-se todos os dias e apresentam soluções que há poucos anos pareceriam impensáveis. Quem diria que seria possível produzir arroz sem recorrer ao tradicional alagamento, poupando milhares de metros cúbicos de água por hectare e, ao mesmo tempo, tornando as culturas mais resistentes a pragas? Quem diria que a sementeira de milho em linhas pareadas poderia aumentar em 10 a 15% a eficiência da rega e do uso de fertilizantes, aproveitando cada gota e cada nutriente?
Estas soluções não são ficção: estarão à vista em setembro, na Agroglobal, como prova de que a inovação agrícola já faz parte da realidade portuguesa. Setembro assinala este caminho de crescimento da agricultura portuguesa. É o mês em que o setor se encontra, partilha conhecimento, mostra resultados e lança debates. É também o momento de sublinhar que a agricultura nunca para: está a diversificar culturas, a experimentar biotecnologias, a reduzir emissões e a procurar soluções que conciliem produtividade com sustentabilidade – fazendo mais com menos.
Habituámo-nos a ver outros setores fundamentais e tradicionais da economia portuguesa a posicionar-se no mercado global em feiras profissionais, aqui e lá fora. Na Agricultura, também não somos exceção.
A Agroglobal, em Santarém, é um dos palcos onde essa transformação se torna visível: 80 hectares de demonstração em campo, onde a inovação deixa de ser conceito para se mostrar no terreno. Um espaço onde se observam e tiram conclusões sobre novas técnicas de rega, culturas mais eficientes, biossoluções e energia renovável – sinais claros de que a agricultura portuguesa não vive apenas de intenções, mas de resultados concretos.
A rentabilidade económica numa exploração agrícola assegura-se com políticas públicas coerentes, com investimento, com mercados que valorizem a produção nacional e, acima de tudo, com agricultores motivados e justamente remunerados.
Hoje, mais de 400 mil profissionais estão ligados diretamente ao setor agrícola. Se incluirmos a agroindústria e a fileira florestal, falamos de mais de 600 mil postos de trabalho, espalhados por todo o território. São agricultores, técnicos, investigadores e trabalhadores que mantêm viva a ligação entre o campo e a mesa, e que dão corpo a uma atividade que é principalmente económica, mas também ambiental e social. Falar de agricultura é falar de pessoas que vivem da terra.
É falar de território e de futuro. É falar de comunidades que se reinventam, de inovação que chega ao campo, de jovens que decidem investir numa atividade cada vez mais exigente tecnologicamente e essencial para todos nós. Setembro fala de agricultura. Uma agricultura inovadora, tecnológica, sustentável, produtiva e competitiva. E, dessa conversa, os portugueses têm que perceber cada vez mais.