Não sendo frequentes, as quedas de aviões são sempre surpreendentemente chocantes, sendo raros os sobreviventes, na maioria das vezes. Tendo em conta a fatalidade desses eventos e perante o desafio de atenuar o impacto dos acidentes no ar, dois engenheiros exploraram o óbvio: airbags.
Dois engenheiros aeronáuticos do Instituto Birla de Tecnologia e Ciência, na Índia, acreditam ter desenvolvido uma solução que poderia ajudar a evitar acidentes aéreos e, por conseguinte, as mortes que deles geralmente resultam.
De nome Project REBIRTH, o sistema de segurança com Inteligência Artificial (IA) equiparia os aviões com um conjunto de sensores que monitorizam constantemente as condições de voo.
Caso o sistema determine que um acidente abaixo de 3000 pés (cerca de 914 metros) é inevitável, deve acionar airbags gigantes, formando uma espécie de casulo, projetado para absorver a energia do impacto e reduzir os danos.
Além disso, em caso de determinar um acidente, o sistema deve, também, ativar um sinalizador infravermelho e luzes intermitentes, por forma a facilitar a localização dos destroços pelas equipas de emergência.
Segundo Eshel Wasim e Dharsan Srinivasan, o seu projeto, nomeado para o Prémio James Dyson 2025, é o “primeiro sistema de sobrevivência a acidentes alimentado por IA” do mundo.
Apesar de ainda estar numa fase inicial de testes, os responsáveis afirmam que simulações em computador mostram que o sistema pode reduzir as forças de impacto em mais de 60%.
Em teoria, uma aterragem mais suave, combinada com decisões de resposta a emergências mais rápidas e orientadas por IA, pode significar a diferença entre a sobrevivência ou a morte dos passageiros num acidente.
Solução para aviões que nasceu do luto
O projeto de airbag gigante para os aviões surge, na sequência de um acidente da Air India, que os deixou a eles e aos seus familiares em estado de choque.
A minha mãe não conseguia dormir. Ela ficava a pensar no medo que os passageiros e pilotos deviam ter sentido, sabendo que não havia saída. Essa sensação de impotência assombrava-nos.
Citou o Popular Science.
Perante isto, os dois engenheiros começaram a pesquisar sobre medidas de segurança aérea e descobriram uma lacuna notável: a maioria dos sistemas de segurança aérea é projetada para evitar acidentes, dando pouca ênfase à melhoria da capacidade de sobrevivência quando um acidente é inevitável.
Por isso, a solução focou-se em três objetivos específicos:
- Desacelerar o avião antes do impacto;
- Absorver a força da colisão;
- Ajudar as equipas de resgate a localizar e responder mais rapidamente.
Segundo os dois responsáveis por este projeto, “o REBIRTH é mais do que engenharia — é uma resposta ao luto, uma promessa de que a sobrevivência pode ser planeada e que, mesmo após uma falha, pode haver uma segunda oportunidade”.
Como funciona o airbag para aviões?
O sistema REBIRTH começa a funcionar muito antes dos airbags comuns serem acionados. Sensores distribuídos por toda a aeronave monitorizam a altitude, velocidade, estado do motor, direção e resposta do piloto.
Depois, esses sensores enviam dados para um sistema de IA a bordo, que analisa as informações, por forma a determinar se uma colisão parece iminente. Se o sistema chegar a essa conclusão a uma altitude igual ou inferior a 3000 pés (cerca de 914 metros), aciona os airbags.
Segundo os engenheiros, os pilotos têm um breve intervalo — que não ficou claro — para anular a decisão de acionamento.
Caso o piloto não anule a decisão, enormes airbags são acionados na parte dianteira, inferior e traseira do avião. Tudo isso deve acontecer em menos de dois segundos.
Os chamados “airbags inteligentes” são construídos com camadas de Kevlar, TPU, Zylon e STF, materiais especificamente selecionados pelas suas propriedades de absorção de energia.
Essas camadas de tecido são reforçadas por um revestimento interno de vários “fluidos não newtonianos”, ou seja, líquidos que não têm viscosidade constante, que ajudam a absorver ainda mais o impacto.
Se os motores ainda estiverem funcionais, ativarão, também, automaticamente o impulso reverso para ajudar a desacelerar o avião. De acordo com os engenheiros, esse impulso reverso, por si só, poderia reduzir a velocidade do avião antes do impacto em 8 a 20%.
Assim que o avião coberto pelo airbag sofrer o impacto, o sistema disparará automaticamente um sinalizador infravermelho, coordenadas GPS e luzes, por forma a ajudar as equipas de resgate a identificá-lo.
Até agora, Wasim e Srinivasan afirmam ter visto resultados promissores em simulações computacionais do seu sistema de airbag: “Hoje, o REBIRTH está pronto para testes em escala, com esquemas, simulações e dados de materiais preparados”.
Claro está que, pela sua fase embrionária, o sistema precisa de mais testes exaustivos, de modo a demonstrar a sua fiabilidade.
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