Esquerda diz que reconhecimento do Estado da Palestina “peca por tardia” – Palestra

“Devemos sublinhar a importância de Portugal reconhecer o Estado da Palestina como um bom sinal da parte deste Governo”, afirmou a eurodeputada e antiga ministra socialista Ana Catarina Mendes, em declarações à Lusa à margem de uma Sessão Pública pela Palestina, que decorreu esta sexta-feira à noite em Lisboa.

Mas é uma decisão que deveria “ter sido tomada mais cedo”, defendeu.

A sua opinião foi partilhada, por Marisa Marias, do Bloco de Esquerda (BE), Inês Sousa Real, do PAN, Pedro Guerreiro do PCP e Isabel Mendes Lopes, do Livre, bem como por Catarina Martins também do BE, todos presentes na mesma sessão.

Para Ana Catarina Mendes, se Portugal tivesse sido tomada mais cedo, “podíamos ter juntado as nossas vozes a outras vozes e feito pressão internacional”. Assim, “morreram mais pessoas”.

Hoje, o Governo Português anunciou que Portugal vai reconhecer o Estado da Palestina no próximo domingo, na véspera da conferência de alto nível sobre a solução dos dois Estados.

“O Ministério dos Negócios Estrangeiros [MNE] confirma que Portugal vai reconhecer o Estado da Palestina, como o ministro Paulo Rangel já havia antecipado esta semana”, indicou, num comunicado.

A deputada do Livre, Isabel Mendes Lopes, na sua intervenção na sessão pública de hoje considerou que o reconhecimento do Estado da Palestina por Portugal “é tardio” e salientou que apesar de ser “um passo importante, não basta”.

Já Pedro Guerreiro do Partido Comunista (PCP) disse que o reconhecimento da Palestina deve ser acompanhado “por medidas” que reforcem a soberania do povo palestiniano, com posições de oposição ao que coloque em “causa o direito internacional, os direitos e a cidadania do povo palestiniano”, acrescentou.

A deputada do Partido Socialista (PS) Marisa Matias, por seu lado, disse que era “lamentável esperar por dois anos de ocupação e dois anos de genocídio” para o reconhecimento da Palestina. E referiu-se, não apenas ao reconhecimento de Portugal, mas também dos restantes nove países que (juntos com Portugal) irão reconhecer o Estado Palestiniano na segunda-feira dia do início da Assembleia Geral das Nações Unidas.

Dado que pouco tempo antes do MNE português ter feito o anúncio da sua decisão, a presidência francesa já tinha informado que dez países, entre os quais Portugal e França, iriam reconhecer um Estado palestiniano na segunda-feira, numa conferência em Nova Iorque, à margem da Assembleia Geral da ONU.

Nessa conferência, estarão representados “dez países que decidiram proceder ao reconhecimento do Estado da Palestina”, indicou um conselheiro do Presidente francês, Emmanuel Macron, à comunicação social.

Além de França, que está por detrás da iniciativa, e de Portugal, os outros Estados “são Andorra, Austrália, Bélgica, Canadá, Luxemburgo, Malta, Reino Unido e São Marino”, acrescentou.

Questionada sobre este anúncio da França Ana Catarina Mendes disse esperar que “mais Estados-Membros da União Europeia” venham a tomar a mesma decisão até à AG da ONU.

A iniciativa que decorreu hoje à noite pretendeu, segundo a organização, reafirmar o respeito pelo Direito Internacional Humanitário, expressar solidariedade para com o povo palestiniano e sublinhar o seu direito à liberdade, à justiça e à autodeterminação.

A sessão contou com a participação de Dima Mohammed (professora universitária), Lídia Jorge (escritora e Conselheira de Estado), Peter Stilwel (padre e teólogo), Bruno Maçães (ex-secretário de Estado), Carlos Almeida (dirigente do MPPM — Movimento pelos Direitos do Povo Palestino e pela Paz no Médio Oriente), Ana Catarina Mendes (PS), Isabel Mendes Lopes (Livre), Pedro Guerreiro (PCP), Marisa Matias (BE) e Inês Sousa Real (PAN).

A guerra na Faixa de Gaza, na Palestina, foi desencadeada pelos ataques liderados pelo Hamas em 07 de outubro de 2023 no sul de Israel, que causaram cerca de 1.200 mortos e mais de 200 reféns.

A retaliação de Israel já provocou a destruição de quase todas as infraestruturas do território e um desastre humanitário sem precedentes na região.

A ONU já declarou situação de fome na Cidade de Gaza, como resultado de quase dois anos de guerra e de um bloqueio imposto por Israel ao território desde março.