Esta cidade na China compete diretamente com Silicon Valley: chama-se Hangzhou

A China tem sido um epicentro tecnológico global, com cidades como Shenzhen a liderar. Contudo, existe outra metrópole considerada uma rival direta de Silicon Valley, impulsionada pela inteligência artificial (IA): eis Hangzhou.


Hangzhou é o berço da Alibaba

A cidade de Shenzhen continua a ser um dos mais importantes centros tecnológicos da China, albergando gigantes como a Huawei, Tencent e DJI. No entanto, com a explosão da IA, outra cidade tem vindo a concentrar algumas das empresas mais inovadoras do momento, posicionando-se como a nova Silicon Valley chinesa. Falamos de Hangzhou, a cidade natal de Jack Ma.

Foi aqui que Ma escolheu fundar a Alibaba, aquela que se tornaria a gigante do comércio eletrónico chinês. Essa decisão foi o embrião do que Hangzhou representa hoje. A Alibaba não só atraiu um fluxo massivo de investidores, como também fomentou a criação de uma cultura tech local.

Muitos dos seus antigos colaboradores, imbuídos deste espírito empreendedor, fundaram as suas próprias empresas na cidade, solidificando ainda mais o seu estatuto. A Alibaba Cloud Technology, com os seus oito centros de dados na região, foi fundamental para fornecer a infraestrutura necessária ao desenvolvimento de inúmeras startups de IA, transformando Hangzhou num terreno fértil para a inovação.

Os “Seis Pequenos Dragões” da IA

O ecossistema de Hangzhou é tão vibrante que já deu origem a uma nova designação: os “Seis Pequenos Dragões”. Este termo designa um grupo de seis das mais promissoras e inovadoras empresas de IA da China, todas elas sediadas em Hangzhou. Esta concentração de talento e de capital de risco num único local está a acelerar o desenvolvimento tecnológico a um ritmo sem precedentes.

Nenhuma Silicon Valley estaria completa sem uma universidade de classe mundial a alimentar o seu talento. Tal como a Universidade de Stanford foi instrumental na formação dos líderes de Silicon Valley, a Universidade de Zhejiang está a desempenhar um papel análogo na China.

Apelidada de “Stanford do Oriente”, esta instituição tem sido o berço dos fundadores de empresas de ponta como a DeepSeek, Manycore e Deep Robotics. De acordo com o South China Morning Post (SCMP), até setembro de 2024, a universidade já tinha formado 102 executivos de startups chinesas focadas em IA.

O sucesso de Hangzhou não é fruto do acaso. A cidade alberga numerosos fundos de investimento dedicados a incubar novas empresas tecnológicas e implementou políticas de apoio que são inexistentes noutras regiões chinesas.

Um exemplo paradigmático é o apoio a estudantes empreendedores, que podem obter um empréstimo até 500.000 yuan (cerca de 60.000 euros). Em caso de fracasso do projeto, o governo assume até 100.000 yuan da dívida ou, se o valor for superior, cobre até 80% do total do empréstimo.

Exemplos concretos deste apoio não faltam:

  • A Game Science, criadora do popular jogo “Black Myth: Wukong”, viu o governo pagar a renda dos seus escritórios durante os primeiros três anos e auxiliar na obtenção de licenças.
  • Outro caso notável é o da BrainCo, uma startup sediada em Boston que foi convencida a mudar-se para Hangzhou graças aos generosos incentivos oferecidos pelo governo chinês.

Eficiência administrativa é a “chave” para o sucesso

Para além do apoio financeiro, Hangzhou destacou-se pela sua notável eficiência burocrática. Foi aqui que nasceu a iniciativa “uma visita, no máximo”, que garante que qualquer processo administrativo para a criação de uma empresa ou solicitação de apoios requer apenas uma deslocação aos serviços públicos.

Esta medida simplificou drasticamente a vida dos empreendedores e teve tanto sucesso que está a ser replicada noutras cidades chinesas.

Todos estes esforços estão a gerar imensos retornos. A indústria tecnológica de Hangzhou cresceu 7,1% em 2024, gerando 630 mil milhões de yuan (aproximadamente 75 mil milhões de euros), o que representa um terço do produto interno bruto (PIB) da cidade.

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