
“Expressamos o nosso profundo alarme e angústia com os dados do IPC sobre Gaza, publicados na última sexta-feira. Confirma clara e inequivocamente a fome na província de Gaza. Confiamos no trabalho e na metodologia do IPC”, pode ler-se num comunicado conjunto divulgado na quarta-feira.
O texto foi assinado pela Argélia, China, Dinamarca, França, Grécia, Guiana, Paquistão, Panamá, Coreia do Sul, Rússia, Serra Leoa, Eslovénia, Somália e Reino Unido. Apenas Washington ficou de fora.
Na semana passada, e pela primeira vez no Médio Oriente, a ONU declarou um cenário de fome em parte do território da Faixa de Gaza e disse que a situação podia ter sido evitada se não fosse “a obstrução sistemática de Israel”.
O IPC (sigla em inglês), um organismo da ONU com sede em Roma, confirmou que uma situação de fome estava em curso em Gaza.
Na declaração de quarta-feira, os 14 Estados-membros manifestaram ainda alarme com o facto de que a fome está projetada para se expandir para Deir al-Balah e Khan Yunis até ao final de setembro.
“Espera-se que pelo menos 132.000 crianças sofram de desnutrição aguda entre agora e junho de 2026. (…) Tudo isso enquanto centenas de camiões carregados de ajuda que salva vidas estão travados a uma curta distância”, salienta-se na nota.
“Esta é uma crise provocada pelo Homem. O uso da fome como arma de guerra é claramente proibido pelo direito internacional humanitário. A fome em Gaza deve ser interrompida imediatamente”, instaram.
Tendo em conta o cenário catastrófico em Gaza, os países lançaram três apelos: um cessar-fogo imediato e a libertação incondicional de todos os reféns; que Israel levante imediata e incondicionalmente todas as restrições à entrega de ajuda; e que Israel que reverta imediatamente a sua decisão de tomar a cidade de Gaza.
Apesar dos apelos e das constatações do IPC, a embaixadora norte-americana junto da ONU, Dorothy Shea, acusou na quarta-feira os autores do relatório de falta de credibilidade e integridade.
Embora reconhecendo que “há um problema real de fome em Gaza”, Shea defendeu que os critérios que a ONU usa para declarar fome “não passam no teste”.
A diplomata replicou ainda as acusações israelitas de que a ajuda humanitária transportada pela ONU cai frequentemente nas mãos de saqueadores enviados pelo grupo islamita palestiniano Hamas, uma alegação repetidamente negada pela ONU.
Também o embaixador de Israel junto da ONU, Danny Danon, alegou que o relatório sobre a fome em Gaza foi “fabricado” de forma a “demonizar” Telavive.
O Ministério dos Negócios Estrangeiros israelita exigiu que as Nações Unidas retirem de imediato esse relatório, acusando o organismo da ONU de ser “uma instituição de investigação politizada”, e ameaçou que, se o relatório não for retirado, partilhará “provas da sua má conduta com todos os doadores” da entidade.