Um exame de ressonância magnética mais rápido e barato foi tão preciso no diagnóstico do cancro da próstata quanto o exame atual de 30 a 40 minutos. Milhões de homens poderão beneficiar desta alternativa, uma vez que a descoberta poderá motivar a mudanças na prática clínica.
Atualmente, o cancro da próstata é um dos principais cancros enfrentados pela população masculina, sendo o de maior incidência e o segundo em mortalidade. À medida que a esperança média de vida aumenta, observa-se um aumento da incidência e da mortalidade da doença, ainda que esta última esteja a diminuir na maioria dos países ocidentais.
Pela sua incidência e agressividade, o rastreio da população em massa é crucial, sendo definido como a análise sistemática dos homens assintomáticos (em risco), geralmente iniciado pelas autoridades de saúde.
Além deste, existe a chamada deteção precoce ou rastreio oportuno, que consiste num processo que começa por iniciativa própria de um homem que vai ser avaliado pelo médico.
O objetivo primário com o rastreio é reduzir a mortalidade devido ao cancro da próstata com a manutenção de qualidade de vida.
Exames de diagnóstico poderão ficar mais acessíveis
Segundo os investigadores responsáveis por um novo estudo nesta área, a introdução das ressonâncias magnéticas na última década, na sequência do trabalho dos investigadores da UCL, foi a maior mudança na forma como o cancro da próstata é diagnosticado nos últimos 30 anos.
As anomalias observadas na ressonância magnética permitem a realização de biópsias de tecido direcionadas, que podem melhorar a deteção do cancro. Um resultado normal na ressonância magnética, que ocorre em cerca de um terço dos pacientes, é tranquilizador e permite que os homens evitem uma biópsia desnecessária.
Apesar dos benefícios evidentes da ressonância magnética, em muitos contextos de saúde em todo o mundo, os homens que precisam de um exame ainda não o realizam. Por exemplo, investigações anteriores estimaram que apenas 35% dos pacientes com cancro da próstata nos Estados Unidos realizaram uma ressonância magnética em 2022.
Em Inglaterra e no País de Gales, em 2019, apenas 62% dos homens que precisavam de uma ressonância magnética da próstata a realizaram.
Atualmente, são necessários cerca de quatro milhões de ressonâncias magnéticas por ano em todo o mundo para diagnosticar o cancro da próstata. Esta procura deverá aumentar rapidamente, com um aumento previsto de casos de cancro da próstata nos próximos 20 anos.
O tempo, o custo e a disponibilidade de pessoal são fatores limitantes no número de exames que podem ser oferecidos, o que torna os resultados do ensaio PRIME particularmente importantes.
Se pudermos fazer o exame em até metade do tempo, com menos pessoal e a um custo menor, isso fará uma enorme diferença, permitindo que todos os homens que precisam de um exame possam obtê-lo em tempo útil.
Explicou Veeru Kasivisvanathan, professor associado, investigador principal e investigador-chefe do ensaio da UCL Surgery & Interventional Science e da UCLH, referindo um ensaio recente que confirmou que um exame de ressonância magnética em duas partes é igualmente eficaz no diagnóstico do cancro da próstata, ao mesmo tempo que reduz o tempo do exame para apenas 15-20 minutos e diminui a necessidade da presença de um médico.
Os ensaios clínicos liderados pela UCL, UCLH e Universidade de Birmingham mostraram que é possível diagnosticar um cancro da próstata de forma mais rápida e barata, tornando-os mais acessíveis aos homens que precisam deles.
Duas etapas para diagnóstico do cancro da próstata, em vez de três
No estudo PRIME, financiado pela John Black Charitable Foundation e pela Prostate Cancer UK, e publicado na JAMA, especialistas em cancro de 22 hospitais em 12 países em todo o mundo recrutaram 555 pacientes com idades entre 59 e 70 anos para verificar se uma ressonância magnética “biparamétrica” simplificada em duas partes poderia detetar o cancro na mesma proporção que uma ressonância magnética “multiparamétrica” completa em três partes.
Esta é o padrão de tratamento no Reino Unido, atualmente, e inclui uma terceira etapa em que um corante é injetado no paciente.
Todos os pacientes foram submetidos ao exame completo de três partes. Em seguida, os radiologistas avaliaram o exame de duas partes sem o corante e, separadamente, avaliaram o exame de três partes com o corante para cada paciente.
Uma biópsia da próstata foi realizada quando necessário para confirmar se o diagnóstico estava correto.
Investigadores da UCL e da UCLH confirmaram que o exame de duas partes era igualmente eficaz no diagnóstico do cancro da próstata. No total, 29% dos pacientes tiveram um cancro da próstata importante diagnosticado pelo exame mais curto de duas partes, a mesma percentagem do exame mais longo de três partes.
O exame de ressonância magnética multiparamétrica em três partes foi uma revolução no diagnóstico do cancro da próstata, poupando milhares de pacientes de biópsias desnecessárias e melhorando a deteção do cancro.
Atualmente, injetamos um corante no paciente que destaca a presença de cancro no exame de ressonância magnética, mas essa etapa requer tempo e a presença de um médico e, em raras ocasiões, pode causar efeitos colaterais leves.
Explicou Francesco Giganti, professor associado e radiologista líder do ensaio da UCL Surgery & Interventional Science e da UCLH, dizendo que “ser capaz de fazer diagnósticos precisos sem a etapa de contraste reduzirá o tempo de exame”.
Desta forma, deverá ser possível oferecer exames a mais homens usando o mesmo número de aparelhos e operadores.
Ainda assim, na voz de Giganti, “é vital que os exames tenham qualidade diagnóstica ideal e sejam interpretados por um radiologista com experiência dedicada em ressonância magnética da próstata”.
Além de tornar o procedimento mais eficiente em termos de tempo e pessoal, uma ressonância magnética em duas etapas geraria uma economia significativa por exame.