A relação entre humanos e inteligência artificial (IA) está a atingir novos patamares emocionais. Prova disso é um fenómeno recente e invulgar: a realização de funerais para modelos de IA que são “reformados”, sublinhando que, para muitos, estes sistemas são mais do que meras ferramentas.
Funeral ao Claude 3 Sonnet ocorreu em São Francisco
Já existem pessoas a apaixonar-se por uma IA, a recorrer a ela como psicólogo ou até a tentar “ressuscitar” entes queridos. O que faltava na lista de acontecimentos era um funeral para um modelo de IA descontinuado, e foi precisamente isso que ocorreu recentemente em São Francisco. Mais de 200 pessoas juntaram-se para prestar uma última homenagem ao Claude 3 Sonnet.
A 21 de julho, a Anthropic, empresa criadora do modelo, anunciou a descontinuação de várias das suas criações, incluindo o Claude 3 Sonnet, o protagonista deste peculiar funeral. Lançado em março de 2024, este modelo destacou-se pelo seu equilíbrio entre desempenho e eficiência. Juntamente com ele, a Anthropic retirou também o Claude 1 e 2, e confirmou que o Claude 3 Opus será descontinuado em janeiro de 2026.
A cerimónia decorreu no passado sábado num armazém no distrito de SOMA, em São Francisco. Segundo a reportagem da Wired, a decoração era extravagante: um tentáculo gigante pendia do teto e vários manequins com uma estética futurista representavam diferentes modelos Claude. No centro do espaço, o manequim que simbolizava o Claude 3 Sonnet estava rodeado flores.
A devoção por trás do modelo
Apesar de o evento ter uma evidente atmosfera de ironia e humor, também se viveram momentos de grande emoção. A Wired relata que alguns dos presentes chegaram mesmo a chorar. Embora o ChatGPT da OpenAI seja o chatbot mais popular a nível global, o Claude da Anthropic conquistou uma comunidade de fãs extremamente devota.
A razão parece residir na personalidade calorosa e amável que a Anthropic conseguiu incutir no seu assistente virtual. A popularidade é tal que existe um website com um ranking dos maiores utilizadores do Claude.
Estabelecer laços afetivos com uma máquina não é, contudo, uma novidade. Em 1966, a criação da ELIZA, o primeiro chatbot da história, deu origem ao chamado “Efeito ELIZA”, pois muitas pessoas acabaram por lhe confidenciar assuntos pessoais como se fosse um ser humano.
O lado sombrio desta interação é que, para algumas pessoas, a ligação com estes assistentes virtuais aproxima-se de um vício. Um estudo recente analisou o impacto do uso de chatbots na saúde mental e concluiu que, embora possam ter um efeito positivo a curto prazo, a sua utilização prolongada está associada a maiores níveis de isolamento social e dependência emocional.
Os especialistas alertam para o perigo de se confundir a empatia simulada de uma máquina com a empatia real. Um chatbot está sempre disponível e, frequentemente, diz-nos aquilo que queremos ouvir, o que pode criar uma falsa sensação de compreensão e afetar negativamente a nossa capacidade de nos conectarmos com outros seres humanos.
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