Fed mantém os juros inalterados apesar da pressão de Trump e divisões internas

As taxas diretoras permanecem assim entre 4,25% e 4,5% pela quinta reunião consecutiva apesar da pressão constante de Trump e alguns membros da sua administração, que querem um corte significativo dos juros com urgência. Pela primeira vez desde 1993, dois governadores votaram em sentido contrário ao consenso.

FILE PHOTO: Federal Reserve Board Chairman Jerome Powell holds a news conference after Powell announced the Fed raised interest rates by three-quarters of a percentage point as part of their continuing efforts to combat inflation, following the Federal Open Market Committee meeting on interest rate policy in Washington, U.S., November 2, 2022. REUTERS/Elizabeth Frantz/File Photo

Apesar da pressão da Casa Branca, a Reserva Federal manteve os juros de referência para a economia norte-americana inalterados esta quarta-feira, em linha com o esperado pelo mercado. As taxas diretoras permanecem assim entre 4,25% e 4,5% pela quinta reunião consecutiva, mas com dois votos contra pela primeira vez em mais de 30 anos.

Investidores e analistas atribuíam uma probabilidade implícita de 97,9% a uma reunião sem mexidas, espelhando bem o consenso de mercado em torno da decisão. A inflação continua acima do objetivo de 2% e está a subir há dois meses, saltando de 2,3% em abril para 2,7% em junho, e a política comercial de Trump arrisca agravar novamente esta tendência.

A decisão foi tomada com dois governadores dissidentes, um cenário que não se verificava desde 1993, mas que já era equacionado por inúmeros analistas. Christopher Waller e Michelle Bowman, dois nomeados por Trump para o cargo, haviam já apontado para alguma fragilidade no mercado laboral para argumentarem a favor de cortes já, em linha com o que defende o presidente.

No comunicado da Reserva Federal, há o reconhecimento que a componente externa continua a mostrar uma volatilidade “que afeta os dados” macro, numa referência à leitura do crescimento conhecida durante o dia. O avanço de 3$ em termos anualizados superou as expectativas, mas foi conseguido à custa de um abrandamento significativo das importações, enquanto o consumo interno cresceu ao ritmo mais baixo desde o final de 2022.

Por outro lado, a inflação medida pelo índice de gastos pessoais de consumo (PCE), o indicador preferencial para o banco central, abrandou para 2,1% – quase em linha com o objetivo de 2%.

A aproximação do dia 1 de agosto significa que a tarifa efetiva média cobrada pelas alfândegas norte-americanas irá disparar, sendo que a maior parte desta incidência recairá sobre os consumidores, que verão assim os preços subir novamente. A Fed já reconheceu várias vezes que pretende maior clareza quanto a esta dinâmica, pelo que um corte dias antes do prazo comercial imposto por Washington se afigurava altamente improvável.

Ainda assim, isso não impediu Trump de voltar à carga na semana passada, voltando a atacar Jerome Powell e a instituição, tal como outros membros da sua administração. O presidente ressalvou que não está a pensar despedir o líder da Fed, mas a sua visita à sede do banco central para visitar as obras de remodelação e o bate-boca quanto aos custos envolvidos são sinais evidentes da pressão da Casa Branca.

[notícia atualizada às 19h10]