Fed não traz surpresas e mantém juros diretores

A Reserva Federal (Fed) norte-americana decidiu manter os juros diretores no intervalo entre 4,25% e 4,5% – o que não constitui surpresa, já que era o esperado pelo mercado. A Fed ainda não mexeu nas taxas este ano e, já que aponta para duas reduções em 2025, a expectativa dos observadores é de que o primeiro corte aconteça no encontro de política monetária de setembro.

Contudo, nesta reunião, surgiram sinais de discórdia em relação ao rumo das taxas de juro. Dois membros do Conselho de Governadores da Fed – Michelle Bowman e Chistopher Waller, ambos nomeados por Donald Trump no seu primeiro mandato – votaram a favor de um corte das taxas de juro. Trata-se da primeira vez desde 1993 que dois governadores votam contra a decisão do presidente do banco central.

No comunicado que acompanha a decisão de manter as taxas de juro, a Fed volta a referir que a “inflação continua relativamente elevada”, mas mudou a avaliação sobre a economia norte-americana. O banco central assinala que “embora as exportações líquidas continuem a afetar os dados, os recentes indicadores sugerem que o crescimento da atividade económica se moderou no primeiro semestre do ano”. Antes, a Fed caracterizava a economia como estando a expandir-se a “um ritmo sólido”. Apesar disso, a Fed refere que a “a taxa de desemprego continua baixa e as condições do mercado de trabalho continuam sólidas”.

Na conferência de imprensa que se seguiu à decisão de política monetária, o presidente da Fed, Jerome Powell, não garantiu que haja um corte das taxas de juro em setembro, lembrando que haverá ainda vários dados para analisar nos próximos dois meses. “Não tomamos decisões sobre setembro. Não o fazemos adiantado. Vamos ter essa informação em consideração e toda a outra informação que pudermos quando tomarmos a nossa decisão em setembro”, disse Powell.            

Pouco antes do comunicado da Fed, o Presidente dos EUA, que tem pressionado repetidamente o banco central a cortar as taxas de juro, aproveitou para abordar novamente o tema. “Ouço que vão cortar as taxas em setembro, não agora”, disse Donald Trump na Casa Branca.  

Sobre as tarifas impostas pela Administração Trump e o seu contributo para a inflação, Powell mantém que é difícil prever o seu impacto. “A subida das tarifas começou a revelar-se mais claramente nos preços de alguns bens, mas os seus efeitos gerais na atividade económica e na inflação continuam por ser vistos”. Porém, admitiu que serão os consumidores a pagar parte do aumento dos custos.  

Em relação aos acordos comerciais que eliminaram alguma da incerteza, Powell salientou que “estes têm sido tempos muito dinâmicos para as negociações comerciais”, mas ressalvou que “ainda estamos a alguma distância de vermos onde as coisas vão parar”. “Parece que há ainda muito mais por surgir”, salientou.