Hiroxima, 80 anos depois: a lição esquecida

Era uma manhã ensolarada de segunda-feira, 6 de agosto de 1945. O dia parecia seguir seu curso comum: crianças iam à escola, pais ao trabalho, a rotina mantinha a aparência de normalidade, apesar da devastação da guerra. Às 8h16, contudo, o mundo mudou para sempre. O bombardeiro norte-americano Enola Gay lançou sobre Hiroxima a primeira bomba atômica da história. O sol, que deveria iluminar e aquecer, converteu-se em símbolo de destruição.

Em segundos, oitenta mil pessoas morreram. Outras dezenas de milhares sucumbiriam ao longo daquele ano. Da cidade, pouco restou além de cinzas, corpos e silêncio. Três dias depois, Nagasaki repetiria o pesadelo. Ali, mais uma vez, sonhos, famílias e futuros foram tragados pelo inferno humano.

Visitei Hiroxima há anos, a convite do governo japonês. Entre memórias e ruínas, ouvi de Sadao Yamamoto, sobrevivente da tragédia, um apelo simples e profundo: “Leve a mensagem de Hiroxima adiante.” Essa mensagem é clara — não às armas nucleares, não às guerras, sim à paz.

O exemplo de Hiroxima é mais do que lembrança histórica: é um chamado. A guerra, em qualquer forma, só produz perdedores. E, no entanto, ainda hoje vemos a insanidade repetir-se. Do Oriente Médio à Ucrânia, vidas continuam a ser ceifadas pela incapacidade humana de aprender com as próprias tragédias.

A Europa, em particular, deveria olhar para Hiroshima com redobrada atenção. A guerra em solo europeu, na Ucrânia, carrega o risco de, por descuido ou por cálculos políticos equivocados, escalar para algo muito mais devastador do que imaginamos. O continente, que já foi berço de tantas guerras, não pode permitir que, por inércia ou vaidade, se abra espaço para uma catástrofe irreversível.

As cinzas de Hiroxima e Nagasaki ainda falam. Elas nos recordam da fragilidade da vida, da loucura das ambições humanas e da urgência de transformar a convivência internacional. Ao se passarem 80 anos daquele 6 de agosto, a lição permanece: a paz deve ser sempre o objetivo maior. Que Hiroshima não seja apenas memória, mas uma constante advertência.