A transição para a mobilidade elétrica avança a ritmos distintos nos principais mercados mundiais. Um novo estudo, alicerçado em inteligência artificial (IA), traça um panorama desigual para o futuro dos carros elétricos na Europa, China e Estados Unidos, revelando percursos e desafios bem diferentes.
Um novo e detalhado estudo, denominado “EY Mobility Lens Forecaster”, utiliza um modelo de IA para projetar a evolução das vendas de veículos ligeiros de passageiros até 2050. A análise foca-se nos três pilares do mercado automóvel global – Europa, China e Estados Unidos – e as conclusões revelam um futuro com velocidades muito distintas.
A nível global, as projeções da IA indicam um marco importante para 2034: nesse ano, as matrículas de automóveis puramente elétricos (BEV), somando estes três mercados, deverão ultrapassar os 50% do total. Os veículos híbridos plug-in (PHEV) também terão um papel fundamental nesta transição, mantendo uma quota de mercado relevante, perto dos 30%, até ao ano de 2036.
Europa enfrenta um avanço lento mas expectável
Apesar dos objetivos ambiciosos, o estudo sugere que o verdadeiro impulso dos carros elétricos na Europa só deverá sentir-se a partir de 2028. Até lá, o avanço será mais lento do que o esperado, penalizado por fatores como a redução de subsídios governamentais, as atuais pressões económicas sobre os consumidores e as “deficiências” que ainda persistem na rede de carregamento.
No entanto, a partir de 2028, prevê-se uma grande aceleração. A IA estima que os elétricos ultrapassarão os modelos a combustão pura nesse ano, alcançando metade do mercado europeu em 2032.
Este crescimento será impulsionado pela introdução de limites de emissões de CO2 mais rigorosos e, crucialmente, pela chegada de uma nova geração de veículos elétricos mais acessíveis. O desenvolvimento de novas tecnologias de baterias, como as de estado sólido e de iões de sódio, será igualmente vital para que os BEV atinjam uma quota de mercado de 95% em 2041.
China continua a dominar o mercado elétrico sem rivais
No que toca à China, as previsões confirmam o seu domínio incontestável. Já este ano, os chamados Veículos de Nova Energia (NEV) – que englobam elétricos puros e híbridos plug-in – deverão superar os 50% do total de vendas no país. Este sucesso avassalador é fruto de políticas governamentais estáveis e de um ecossistema industrial extremamente sólido na produção de veículos e baterias.
As projeções indicam que os elétricos puros, por si só, poderão representar mais de metade das vendas chinesas em 2033, com os NEV a atingirem os 90% do mercado em 2034. Contudo, o estudo também nota que, apesar do domínio interno, a quota da China no mercado global de elétricos deverá diminuir de 70% para 54% até 2050, à medida que outras regiões recuperam terreno.
Do outro lado do Atlântico, os Estados Unidos enfrentam o cenário mais desafiador. Se há uns anos o país parecia encaminhado para ser a segunda maior força na transição elétrica, as projeções mudaram drasticamente. A atual incerteza política, os problemas na infraestrutura de carregamento, os custos elevados dos veículos e a imposição de tarifas criam um ambiente de instabilidade.
A IA prevê que as vendas de elétricos continuarão a crescer em 2025, enquanto os consumidores aproveitam os últimos incentivos fiscais. No entanto, o caminho será longo: estima-se que os veículos elétricos só representarão 50% das vendas no mercado norte-americano em 2039, um atraso considerável em relação aos seus pares globais.
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