Israel entre a guerra e o crescimento económico

Quando falamos de Israel, pensamos num país em permanente tensão, cercado de inimigos cujo principal objetivo parece ser a sua extinção. Apesar disso, a realidade económica é surpreendentemente sólida.

O desemprego está em mínimos históricos, cerca de 2,6%, refletindo a força do mercado de trabalho e sustentando o consumo interno. Para 2026, as projeções apontam para um crescimento robusto, que poderá atingir 5,5% do PIB, impulsionado pelo investimento, pela recuperação do comércio e, sobretudo, pela vitalidade do setor tecnológico e da indústria de defesa e segurança. Estes setores não só geram elevado valor acrescentado como reforçam a posição estratégica de Israel no plano internacional. No contexto do atual rearmamento europeu, Portugal poderia aprender com a experiência israelita, em termos de inovação, eficiência e integração tecnológica na indústria de defesa.

Na semana passada tive a oportunidade de visitar Israel para avaliar pessoalmente o contexto securitário do país. Durante esses dias, foi impressionante perceber como a tensão constante resultante da ameaça terrorista e da ameaça de guerra não paralisa a vida económica e social, antes reforça a capacidade de inovação e a resiliência das instituições. Visitar unidades militares e de segurança, centros tecnológicos, unidades industriais de defesa e interagir com profissionais locais, mas também com as vítimas do terrorismo, confirmou-me que a força do país não reside apenas no seu poder militar, mas também na sua capacidade de transformar desafios externos em oportunidades económicas e sociais.

O PIB global de Israel ronda os 540 mil milhões de dólares, ocupando o 25º lugar mundial, com um PIB per capita de cerca de 54 mil dólares, valor elevado no contexto internacional. Portugal, em comparação, apresenta um PIB de cerca de 310 mil milhões de dólares e um PIB per capita próximo dos 29 mil dólares, colocando Israel numa posição significativamente mais favorável em termos de riqueza por habitante.

As despesas militares recentes aumentaram a pressão fiscal, elevando a dívida pública para cerca de 67% do PIB. Ainda assim, esse nível é moderado e inferior ao de Portugal, onde a dívida ultrapassa os 90% do PIB. Outro fator importante é o forte crescimento populacional de Israel, com mais de quatro filhos por casal. Isso aumenta a pressão sobre habitação e serviços públicos, mas ao mesmo tempo expande o mercado interno e garante uma base jovem e dinâmica de mão de obra. Portugal, em contraste, enfrenta estagnação demográfica e envelhecimento populacional, fatores que limitam o seu potencial de crescimento económico.

Portugal também beneficia desse crescimento: cerca de 70 mil israelitas já possuem cidadania portuguesa e, com a elevada taxa de crescimento dessa população, esse número deverá aumentar significativamente, com possíveis efeitos políticos e eleitorais. Essa dinâmica resulta da lei que permite a descendentes de judeus sefarditas obter a nacionalidade portuguesa, em reconhecimento histórico pela expulsão e perseguição sofrida no século XV, preservando os laços culturais e históricos dessas comunidades com Portugal.

O mercado de capitais israelita mantém-se resiliente, com confiança internacional e forte capacidade de atrair investimento externo, mesmo perante questões reputacionais e o contexto de guerra. O país continua a receber capital para inovação, infraestruturas e setores estratégicos, demonstrando a confiança de investidores na solidez e no potencial de crescimento da economia israelita.

Em conjunto, estes fatores mostram que, mesmo enfrentando tensões externas, Israel preserva uma sociedade e economia dinâmicas, com elevado rendimento per capita, sólido potencial de crescimento, setores tecnológicos e de defesa competitivos e uma demografia favorável – contrastando com a situação de vários países europeus.