Jackson Hole deixa investidores ansiosos e arrasta Wall Street para o vermelho

Os principais índices norte-americanos terminaram a penúltima sessão da semana no vermelho, num dia marcado pelos resultados da maior retalhista do país – a Walmart. Os investidores andaram toda a semana à procura de pistas sobre a vitalidade do consumo privado nos EUA – que representa cerca de 70% do PIB –, numa altura em que a confiança dos consumidores tem vindo a perder força, muito devido à nova política comercial imposta pela administração Trump. No entanto, as pistas deixadas pelas principais empresas de retalho norte-americanas foram mistas.  

Neste contexto, o S&P 500 terminou a negociação a perder 0,40% para 6.370,17 pontos, enquanto o tecnológico Nasdaq Composite desvalorizou 0,34% para 21.100,31 pontos e o industrial Dow Jones caiu 0,34% para 44.785,50 pontos. A sessão foi ainda marcada pelo nervosismo dos investidores em torno do que Jerome Powell, presidente da Reserva Federal (Fed) norte-americana, poderá dizer no simpósio anual em Jackson Hole, numa altura em que os mercados continuam a apontar para dois cortes nas taxas de juro este ano – mas com cada vez menos confiança. 

Vários governadores do banco central têm deixado uma mensagem de cautela esta semana. Na lista encontram-se nomes como a presidente da Fed de Cleveland Fed, Beth Hammack, de Atlanta, Raphael Bostic, e do Kansas, Jeffrey Schmid, que reforçaram a ideia de que a autoridade monetária deve continuar a olhar para os dados – e deixar de lado as pressões externas exercidas por Donald Trump e a sua administração. 

“A ansiedade em relação ao que irá acontecer amanhã em Jackson Hole está certamente a pesar um pouco sobre o apetite pelo risco», afirmou Adam Turnquist, estratega da LPL Financial, à Reuters. “Poderá haver um ‘sell-off’ significativo se o discurso de Powell for mais ‘hawkish’ do que o antecipado“, explicou ainda. 

Esta quinta-feira, novos dados reforçaram a narrativa de que o mercado laboral dos EUA está a perder pujança, com o número de americanos a pedir subsídio de desemprego a registar o maior aumento em três meses na semana passada. No entanto, a atividade industrial voltou a ganhar tração, com o indicador que mede a sua vitalidade a conquistar terreno, impulsionado por um ressurgimento da indústria manufatureira, que registou o maior número de encomendas em 18 meses. 

Entre as retalhistas, a Walmart afundou 4,49% para 97,96 dólares, depois de ter encerrado o segundo trimestre com lucros por ação de 0,68 dólares – um valor ligeiramente inferior ao esperado pelos analistas de 0,73 dólares, apesar de até ter visto as receitas a ficarem acima das expectativas. A revisão em alta das previsões de lucro e vendas para o resto do ano não foram suficientes para animar os investidores, apesar da empresa apontar para maior procura por parte de consumidores de todas as classes económicas. 

Já as ações tecnológicas, que nas últimas sessões têm enfrentando um “sell-off” devido ao que alguns analistas dizem ser dúvidas em torno da sustentabilidade do “rally” das ações ligadas à inteligência artificial, conseguiram reduzir as perdas, embora não estejam ainda livres do vermelho. “Embora os ‘dip buyers’ [investidores que aproveitam o declínio do valor dos títulos de uma empresa para comprarem] tenham entrado em cena e estabilizado o mercado, ainda é muito cedo para descartar uma nova queda nas ações tecnológicas”, explica Raffi Boyadjian, analista da corretora XM, à agência de notícias. 

Entre as restantes principais movimentações de mercado, a Boeing perdeu 0,51%, apesar de ter sido noticiado que a empresa encontra-se em negociações para vender 500 aeronaves à China. Já a Coty afundou 21,50%, após a fabricante de produtos de beleza ter revisto em baixa as previsões de receitas em relação ao trimestre em exercício.