Liga Árabe pede fim de venda de armas a Israel e processos por crimes de guerra

Os apelos do conselho do órgão pan-árabe de 22 estados constam no comunicado final da sua sessão extraordinária no Cairo, onde abordou com urgência a deterioração das condições da população no enclave palestiniano, mergulhada numa crise humanitária sem precedentes devido ao bloqueio israelita.

No comunicado, a Liga Árabe instou “os estados a implementarem medidas legais e administrativas, incluindo a proibição da exportação, transferência ou trânsito de armas, munições e equipamento militar para Israel”, a revisão das relações económicas com Telavive e a abertura de investigações e processos judiciais contra as autoridades israelitas.

A organização dirigiu-se também à sociedade civil e às organizações de direitos humanos no sentido de identificarem os implicados em crimes de guerra israelitas para que sejam responsabilizados.

O Conselho da Liga Árabe apelou ainda para a proteção do povo palestiniano “contra o genocídio, a deslocação e a limpeza étnica, e para a prevenção da eliminação da sua causa raiz”, ao mesmo tempo que condenou os planos de Israel para “impor o controlo militar total sobre a Faixa de Gaza e implementar um plano de deslocação forçada”.

Neste sentido, saudou as posições internacionais que rejeitam a imposição do controlo militar israelita sobre a Faixa Gaza e a anexação da Cisjordânia.

Além disso, destacou a necessidade de se quebrar o bloqueio israelita ao território e garantir a entrada de ajuda humanitária por terra, mar e ar, em cooperação com as Nações Unidas e as suas agências, incluindo a dos refugiados palestinianos, para pôr fim à fome”.

Do mesmo modo, criticou as “armadilhas mortais montadas pelas forças de ocupação sob o pretexto da chamada Fundação Humanitária de Gaza [criada como apoio de Washington e Telavive], que provocaram 1.500 mártires e milhares de feridos”.

O representante palestiniano na Liga Árabe, Muhannad al-Aklouk, salientou a importância de intensificar os esforços internacionais para “interromper a guerra de genocídio”, alertando que “Israel está a massacrar a humanidade em todo o mundo e a Palestina é a cena do crime”.

O pronunciamento da Liga Árabe surge no dia em que o Conselho de Segurança da ONU também dedica uma sessão de urgência ao território palestiniano, no seguimento da divulgação do plano israelita de ocupar a Cidade de Gaza, deslocar centenas de milhares dos seus habitantes e expandir as operações militares aos campos de refugiados na costa central do território.

Na sua primeira conferência de imprensa desde a aprovação, pelo Gabinete de Segurança israelita na madrugada de sexta-feira, das novas etapas para o conflito, que preveem a destruição do grupo islamita palestiniano Hamas e a recuperação dos reféns que conserva na sua posse, o primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netayahu, reiterou que “não visa ocupar Gaza, mas desmilitarizar” o território.

“Primeiro, desarmar o Hamas. Segundo, libertar todos os reféns. Terceiro, desmilitarizar Gaza. Quarto, Israel exercer o controlo de segurança. E quinto, uma administração civil pacífica e não israelita”, enumerou o chefe do Governo.

Segundo Netanyahu, este plano será executado “permitindo que a população civil saia em segurança das zonas de combate para áreas seguras designadas”, onde poderão receber “alimentos, água e assistência médica em abundância”.

Numa fase em que as autoridades locais da Faixa de Gaza, controladas pelo Hamas, registam mais de 200 mortos por fome e subnutrição, metade dos quais crianças, o líder israelita anunciou hoje o reforço da ajuda humanitária à população, que as Nações Unidas clamam como urgente perante “uma catástrofe inimaginável”, e o acesso de mais jornalistas internacionais ao território sujeito a um bloqueio quase total nos últimos meses.

Em reação, o Hamas acusou o primeiro-ministro israelita de contar “uma série de mentiras”, após as suas declarações de hoje, em que defendeu a ocupação da Cidade de Gaza como a “melhor forma” de acabar com a guerra.

“Tudo o que disse é uma série de mentiras. É incapaz de encarar a verdade e, em vez disso, trabalha para a distorcer e ocultar”, comentou o assessor de imprensa do chefe do gabinete político do Hamas em declarações à agência France-Presse (AFP).

O conflito foi desencadeado pelos ataques liderados pelo Hamas em 07 de outubro de 2023 no sul de Israel, onde perto de 1.200 pessoas morreram e cerca de 250 foram feitas reféns.

Em retaliação, Israel lançou uma vasta operação militar no território, que já provocou mais de 61 mil mortos, segundo as autoridades locais, a destruição de quase todas as infraestruturas do enclave e a deslocação de centenas de milhares de pessoas.