Microplásticos estão constantemente a infiltrar-se no seu cérebro. Quais são os efeitos?

A omnipresença dos microplásticos é um facto incontestável, mas a sua recente deteção no cérebro humano levanta novas e preocupantes questões sobre o seu impacto na nossa saúde. Embora a ciência ainda procure respostas definitivas, o debate sobre os riscos e a necessidade de ação imediata está mais aceso do que nunca.


A descoberta sobre microplásticos que abalou a comunidade científica

Apesar de o impacto dos microplásticos e dos ainda mais pequenos nanoplásticos na saúde humana não ser totalmente compreendido, a comunidade científica tem intensificado a investigação nesta área relativamente nova.

O estudo mais proeminente sobre a presença de microplásticos no cérebro foi publicado na revista Nature Medicine. Os cientistas analisaram tecido cerebral de 28 pessoas falecidas em 2016 e de 24 falecidas em 2023, no estado norte-americano do Novo México, concluindo que a quantidade de microplásticos nas amostras tinha aumentado ao longo do tempo.

A investigação ganhou destaque mediático mundial quando o investigador principal, o toxicologista norte-americano Matthew Campen, afirmou que a equipa tinha detetado o equivalente a uma colher de plástico em microplásticos nos cérebros analisados. Campen chegou a estimar que seria possível isolar cerca de 10 gramas de plástico de um cérebro humano doado, comparando essa quantidade a um lápis de cera.

Tampa presa à garrafa de plástico

Especulação vs. evidência

No entanto, outros investigadores rapidamente apelaram à prudência na interpretação deste estudo de pequena dimensão.

Apesar de ser uma descoberta interessante, deve ser interpretada com cautela até que haja uma verificação independente. Atualmente, a especulação sobre os potenciais efeitos das partículas de plástico na saúde vai muito para além das evidências.

Afirmou à AFP o toxicologista Theodore Henry, da Universidade Heriot-Watt, na Escócia.

Oliver Jones, professor de química na Universidade RMIT, na Austrália, partilha da mesma opinião, afirmando à AFP que “não existem dados suficientes para tirar conclusões firmes sobre a ocorrência de microplásticos no Novo México, e muito menos a nível global”. O especialista considerou ainda “bastante improvável” que o cérebro pudesse conter mais microplásticos do que os encontrados em esgotos brutos, como o estudo sugeria.

Jones sublinhou que os indivíduos do estudo eram saudáveis antes de falecerem e que os próprios investigadores admitiram não haver dados suficientes para demonstrar que os microplásticos lhes tivessem causado danos.

Se (e é um grande ‘se’, na minha opinião) existem microplásticos nos nossos cérebros, ainda não há qualquer prova de que sejam nocivos.

Concluiu.

Cérebro

Entre a incerteza científica e o princípio da precaução

A maioria das investigações sobre os efeitos dos microplásticos na saúde é de natureza observacional, o que significa que não consegue estabelecer uma relação de causa e efeito. Um desses estudos, publicado no New England Journal of Medicine no ano passado, associou a acumulação de microplásticos nos vasos sanguíneos a um risco aumentado de ataque cardíaco, AVC e morte em doentes com aterosclerose.

Foram também realizadas experiências em ratos. Um estudo publicado em janeiro na Science Advances detetou microplásticos nos seus cérebros, com os investigadores chineses a sugerir que estas partículas poderiam causar coágulos sanguíneos raros ao obstruir células, embora tenham reforçado que os pequenos mamíferos são muito diferentes dos humanos.

Uma revisão da Organização Mundial da Saúde (OMS) em 2022 concluiu que “as evidências são insuficientes para determinar os riscos para a saúde humana” decorrentes dos microplásticos. Contudo, muitos especialistas invocam o princípio da precaução, defendendo que a potencial ameaça exige ação imediata.

Esta urgência é reforçada por um dado alarmante: a produção mundial de plástico duplicou desde 2000 e prevê-se que triplique até 2060.

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