A aposta da China na sua soberania tecnológica está a gerar grandes obstáculos para as suas próprias empresas de inteligência artificial (IA). Um dos casos mais recentes envolve a DeepSeek, cujo desenvolvimento do seu mais recente modelo de IA foi adiado devido a uma troca forçada de hardware da NVIDIA por alternativas da Huawei.
Aposta nos chips da Huawei foi um fracasso…
A insistência do governo chinês para que as empresas locais utilizem chips de produção nacional em detrimento das populares soluções da NVIDIA poderá ter um custo elevado. De acordo com uma nova reportagem do Financial Times, Pequim terá pressionado a DeepSeek a substituir o hardware da NVIDIA por processadores da Huawei para o treino do seu novo modelo, o R2.
No entanto, os constantes problemas técnicos que surgiram durante o processo não só atrasaram o lançamento, como forçaram a empresa a reverter a decisão e a voltar a usar o hardware da NVIDIA para o treino, relegando os chips da Huawei para tarefas de inferência.
O antecessor, o modelo R1 da DeepSeek, abalou a indústria da IA quando foi lançado em janeiro, com a alegação de que teria sido treinado com 2048 GPUs H800 da NVIDIA a um custo de apenas 5,576 milhões de dólares, uma fração dos milhares de milhões que outras gigantes do setor investem. Contudo, foi mais tarde revelado que a DeepSeek tinha, na verdade, acesso a um arsenal de cerca de 50.000 GPUs Hopper.
Para o desenvolvimento do modelo sucessor, o R2, as autoridades chinesas “incentivaram” a DeepSeek a afastar-se da tecnologia da NVIDIA e a optar por hardware doméstico. A empresa acedeu a esta sugestão e adotou as plataformas Ascend da Huawei para o treino do R2.
Infelizmente, a transição resultou numa série de complicações, incluindo desempenho instável, velocidades de interconexão mais lentas e limitações significativas com o toolkit da Huawei, o CANN.
Na tentativa de resolver estes problemas, a Huawei enviou uma equipa de engenheiros aos centros de dados da DeepSeek. No entanto, mesmo com o apoio presencial, nunca foi possível concluir com sucesso um ciclo de treino completo na plataforma Ascend.
Apesar do fracasso no treino, os trabalhos para tornar o R2 compatível com os chips Ascend para fins de inferência continuam. O lançamento do R2, inicialmente previsto para maio, sofreu um atraso considerável devido a esta mudança de hardware, sendo agora esperado para as próximas semanas.
A guerra tecnológica como pano de fundo
A somar aos atrasos está a crescente escassez de GPUs de topo da NVIDIA na China. A pressão de Pequim para que a DeepSeek abandone a NVIDIA não é um caso isolado. Recentemente, o governo dos EUA estabeleceu um acordo com a NVIDIA e a AMD que lhes concede as licenças necessárias para vender à China em troca de 15% das receitas de chips específicos, como o H20.
Esta situação insere-se num esforço mais vasto por parte das autoridades chinesas para promover a autossuficiência tecnológica. Há relatos de que o governo tem vindo a pressionar várias grandes empresas a evitarem o uso do H20 da NVIDIA , exigindo que justifiquem as suas encomendas e expliquem por que razão estes são preferíveis às alternativas nacionais.
Curiosamente, os meios de comunicação estatais chineses chegaram a descrever os GPUs H20 como inseguros, desatualizados e prejudiciais para o ambiente, levando a NVIDIA a ser convocada para uma reunião com os reguladores chineses para discutir preocupações de segurança nacional.
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