
É difícil reagir a uma situação de crise rapidamente, para mais tendo de dizer que é preciso esperar, que não temos todos os dados, nem respostas. Nestas alturas, alguém acossado dispara para todo o lado na esperança de que algum tiro acerte num qualquer alvo. Foi o que fez Carlos Moedas na ressaca do desastre no Elevador da Glória, embrulhando-se em soundbites, que podem ser eficazes num minuto, ficar no ouvido, mas perduram para serem desconstruídos.
Garantiu, na televisão, que os custos de manutenção da Carris tinham crescido 30% nos últimos três anos, mais cinco pontos percentuais do que tinha afirmado aos trabalhadores da autarquia ter sido o aumento. Olhando para os relatórios e contas, a subida foi de 18,8%. Se descontarmos a inflação registada, que acumulada foi de cerca de 20% neste período, o desinvestimento foi de um milhão de euros.
Especificamente quanto aos custos de manutenção de elétricos, ascensores e elevadores, os relatórios de gestão da empresa mostram que aumentaram 4,5%, para 3,45 milhões de euros. Tendo em conta a inflação, foi menos meio milhão. Pior ainda, a frota de ascensores e elevadores manteve-se estável, com oito veículos, mas a de elétricos passou de 48 para 60. O gasto em manutenção por unidade caiu 15,2%, para 50 mil euros. Seria uma boa poupança, não fosse estar em causa a segurança e ter havido um acidente com 16 mortos.
“Se alguém provar que Carlos Moedas não deu as condições a essa empresa, que o orçamento da empresa diminuiu, se alguém provar que essa empresa não investiu em novo equipamento e se alguém provar que a empresa diminuiu o nível de manutenção, então aí há responsabilidade política”, afirmou o acossado Moedas na tal entrevista.
Tiros em todas as direções também tendem a acertar nos próprios pés.