Montenegro quer captar mais investimento chinês

A viagem de cinco dias do primeiro-ministro à China e ao Japão incluiu encontros com Xi Jinping e empresários asiáticos para estreitar laços, atrair investimento e equilibrar a balança comercial.

Foi num clima de crescente desconfiança mútua entre a União Europeia e a China que Luís Montenegro visitou Pequim – nove anos depois de o anterior primeiro-ministro, António Costa, ter visitado a China em 2016 e de o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, ter estado no território em 2019. Esta visita oficial fortaleceu a importância estratégica de Portugal para investimentos chineses, especialmente em áreas como a energia, saúde, finanças e inovação tecnológica – o Investimento Direto Estrangeiro (IDE) da China no nosso País atingiu um valor recorde de 3,96 mil milhões de euros em 2024, um crescimento de 9,3% face a 2023, acumulando 14 anos consecutivos de subida.

Além disso, as tensões comerciais entre a Europa, os Estados Unidos e a China abrem também uma janela de oportunidade para Portugal atrair investimento industrial chinês em tecnologias associadas ao 5G e a inteligência artificial, captando capital, emprego qualificado, novas receitas fiscais e exportações. “Ao nível da nossa cooperação económica bilateral, é meu dever dizer-lhe que não nos esquecemos, pelo contrário, temos muito bem presente e respeitamos a aposta que a China desenvolveu na economia portuguesa, num dos momentos mais críticos do nosso país, quando da crise financeira”, disse Luís Montenegro a Xi Jinping, numa cerimónia que decorreu no Grande Palácio do Povo, em Pequim.

Entre os principais projetos de cooperação entre os dois países, destaca-se a construção da fábrica da China Aviation Lithium Battery (CALB), uma das maiores fornecedoras mundiais de baterias para carros elétricos, em Sines, no sul de Portugal. Este foi um investimento recorde da China no nosso país no valor de dois mil milhões de euros. No setor energético, a China Three Gorges, tem impulsionado o desenvolvimento de renováveis. Já o grupo Fosun expandiu a sua atuação em áreas como finanças e saúde.

Apesar do forte investimento chinês em Portugal, Luís Montenegro, pretende também que as empresas nacionais do setor agroalimentar e do vinho marquem mais presença neste país asiático para um maior equilíbrio na balança comercial entre os dois países.

Parceria estratégica
Depois de Pequim e Macau, Montenegro aterrou em Tóquio. O principal objetivo da viagem foi divulgar Portugal em áreas onde os japoneses têm interesse em investir, como as energias renováveis, biocombustíveis ou economia azul.

Em 2024, o Japão foi o 31.º cliente de bens de Portugal e o 30.º fornecedor. A balança comercial é deficitária para Portugal em 210 milhões de euros e as trocas de bens assentam em mais de 97% em produtos industriais transformados (automóveis e metais comuns).

Entre os setores com maior potencial identificados para as empresas portuguesas encontram-se o agroalimentar, a tecnologia e inovação, as energias renováveis, e a saúde e bem-estar. No Japão, o primeiro-ministro, Luís Montenegro, anunciou que Portugal e Japão vão elevar o seu grau de relação bilateral para uma “parceria estratégica”, o que constituirá uma “nova fase” na cooperação entre os dois países.

“Não se trata apenas de uma designação vaga, de uma expressão, é um compromisso para podermos ir mais longe na nossa cooperação ao nível cultural, ao nível económico, ao nível do desenvolvimento de novas áreas de relacionamento”, afirmou.

O chefe do Governo destacou entre as áreas a desenvolver para o futuro no relacionamento bilateral a segurança e defesa, as novas tecnologias, a energia e a partilha do conhecimento científico entre instituições de ensino.

Hoje, sexta-feira, último dia desta visita oficial, o primeiro-ministro viajará de comboio para Osaka, onde visitará os pavilhões de Portugal.