Por exigência do Governo de Donald Trump, a NASA deverá ver-se obrigada a encerrar pelo menos duas importantes missões espaciais. Os dados, “de qualidade excecionalmente alta”, são amplamente utilizados por cientistas, empresas de petróleo e gás, e agricultores.
A administração de Donald Trump terá pedido aos funcionários da NASA que elaborassem planos para encerrar pelo menos duas importantes missões espaciais, de acordo com funcionários atuais e antigos da agência espacial norte-americana, citados pela National Public Radio (NPR).
Conhecidas como Observatórios Orbitais de Carbono (em inglês, OCO), porque foram originalmente projetadas para medir o dióxido de carbono na atmosfera, ambas as missões recolhem dados amplamente utilizados, inclusive por cientistas, empresas de petróleo e gás, e agricultores.
As várias indústrias recorrem à informação recolhida pelas missões da NASA para obter informações detalhadas sobre dióxido de carbono e saúde das culturas.
Aliás, as missões que o Governo dos Estados Unidos quer encerrar são as únicas federais de satélites projetadas e construídas especificamente para monitorizar os gases de efeito estufa que aquecem o planeta.
Encerramento confirmado por vários cientistas – dentro e fora da NASA
De acordo com cientistas que trabalharam nas missões, o equipamento espacial é de última geração e deveria funcionar durante muitos anos.
Aliás, uma revisão oficial da NASA, em 2023, concluiu que “os dados são de qualidade excecionalmente alta” e recomendou a continuação da missão por pelo menos três anos.
Perante este cenário, não é claro por que motivo o Governo dos Estados Unidos pretende encerrá-las.
As duas missões utilizam dispositivos de medição idênticos, mas um está ligado a um satélite independente e o outro está ligado à Estação Espacial Internacional (em inglês, ISS).
Caso a NASA encerre efetivamente a missão, o satélite independente arderá na atmosfera.
Segundo David Crisp, um cientista sénior da NASA que projetou os instrumentos e geriu as missões até à reforma, em 2022, os funcionários da agência espacial que trabalham nas duas missões estão a elaborar os chamados planos de Fase F, que estabelecem caminhos para encerrar as missões da NASA.
O que ouvi foram comunicações diretas das pessoas que estão a fazer esses planos, que não tinham permissão para me dizer que tinha sido isso que lhes tinham pedido para fazer. Mas tinham permissão para me fazer perguntas.
Eles fizeram-me perguntas muito perspicazes. A única coisa que poderia ter motivado aquelas perguntas era [que] alguém lhes tivesse dito para elaborarem um plano de encerramento.
Partilhou Crisp, confidenciando que foi contactado pelos funcionários da NASA que estão a tratar desses planos de encerramento para consulta da sua experiência técnica.
À semelhança do cientista sénior, segundo a NPR, três outros académicos que utilizam dados das missões confirmaram que foram, também, contactados com perguntas relacionadas com o encerramento.
Entretanto, dois funcionários atuais da NASA confirmaram que foi pedido aos líderes das missões a elaboração de planos de encerramento para projetos que perderiam financiamento sob o orçamento proposto pelo Presidente Donald Trump para o próximo ano fiscal, que começa no dia 1 de outubro.
Qualidade dos dados das missões é “excecionalmente alta”
Originalmente projetadas para medir o dióxido de carbono na atmosfera – revolucionando a compreensão dos cientistas sobre a rapidez com que o dióxido de carbono se acumula na atmosfera -, as missões OCO viram o seu propósito alargado, logo após o lançamento.
Na altura, os cientistas perceberam que estavam, também, a medir acidentalmente o crescimento das plantas na Terra.
De forma simplificada, quando as plantas estão a crescer, ocorre a fotossíntese nas suas células, que emite um comprimento de onda de luz muito específico. Ora, os instrumentos das missões, no espaço, medem essa luz em todo o planeta.
Por isso, segundo Scott Denning, um cientista climático sénior da Universidade do Estado do Colorado, que trabalhou nas missões OCO e está agora reformado, “a NASA e outros transformaram este feliz acidente num conjunto incrivelmente valioso de mapas da fotossíntese das plantas em todo o mundo”.
Eis que obtemos, também, estes mapas encantadores e de alta resolução do crescimento das plantas. E isso é útil para os agricultores, útil para a monitorização de pastos e pastagens, secas e mapeamento florestal, e todo o tipo de coisas, além das medições de CO2.
Conforme exemplificado, o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos e muitas empresas privadas de consultoria agrícola utilizam os dados para prever e acompanhar o rendimento das colheitas, as condições de seca e outros parâmetros relevantes.
Além disso, as informações podem ainda ajudar a prever instabilidade política futura, uma vez que a quebra nas colheitas é um dos principais fatores que levam à migração em massa em todo o mundo.
Na perspetiva de Crips, “esta é uma questão de segurança nacional, com certeza”.
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