A chegada do advogado Setembro de 2014. O nome Tecnoforma regressa às manchetes, arrastando o primeiro-ministro Pedro Passos Coelho para o centro de uma tempestade política. Em causa, suspeitas de incompatibilidades e de uso indevido de fundos comunitários. É neste contexto que surge Cristóvão Carvalho, advogado chamado a gerir uma crise que já não se limitava aos tribunais: estava instalada na arena mediática e política. O diagnóstico inicial Segundo fontes próximas da empresa, a primeira leitura de Carvalho foi imediata: a Tecnoforma estava a ser julgada na opinião pública antes de o ser na justiça. “Ele percebeu logo que o caso não se ia ganhar apenas nos autos.
Era preciso desmontar a narrativa mediática, caso contrário a empresa seria esmagada”, recorda uma fonte próxima do advogado. Com reportagens semanais no “Sexta às 9” e o PS a explorar cada detalhe no Parlamento, a pressão aumentava. Do lado do PSD, vozes críticas de Passos, como Luís Marques Mendes, ajudavam a manter a polémica acesa. O tripé estratégico A investigação do Expresso permite identificar três eixos principais na atuação de Cristóvão Carvalho: Separar a Tecnoforma do CPPC “Ele bateu-se até à exaustão para mostrar que a ONG e a empresa não se confundiam. Isso foi crucial para desmontar a tese de favorecimento político”, afirma um ex-dirigente do PSD próximo de Passos. Esclarecer o papel de Passos Coelho “Cristóvão percebeu que havia uma janela temporal que tinha de ser explicada ao detalhe. Se não se clarificasse que o trabalho foi depois do mandato parlamentar, a dúvida ficava para sempre”, explica um jornalista que acompanhou o caso. Contra-ataque jurídico e mediático O advogado anunciou processos contra jornalistas e até contra um membro do Governo. “Foi uma jogada arriscada, mas funcionou.
De repente já não era só a Tecnoforma a explicar-se, eram os acusadores que tinham de se defender”, observa uma fonte socialista que acompanhou o dossiê na altura. A gestão da opinião pública Mais do que advogado, Cristóvão Carvalho assumiu o papel de estratega mediático. Preferiu ser ele a cara da defesa, evitando que os administradores da empresa se expusessem. “Ele sabia falar para os jornalistas, tinha uma linguagem clara e combativa. Passou a mensagem de que a empresa não tinha nada a esconder”, diz um repórter que participou nas conferências de imprensa. O PS viu a estratégia como um revés: “Tínhamos um guião pronto para desgastar Passos, mas a firmeza do advogado baralhou a narrativa. De repente, parecia que éramos nós a forçar um caso sem matéria”, admite, em privado, um antigo assessor socialista.
O impacto dentro do PSD No interior do PSD, muitos reconheceram o papel decisivo do advogado. “Se não fosse o Cristóvão, o caso Tecnoforma teria deixado feridas muito mais profundas em Passos. Ele não só defendeu a empresa como neutralizou alguns opositores internos que estavam a usar o caso como arma”, afirma uma fonte social-democrata próxima da liderança da época. Arquivamento e memória Em 2015, o Ministério Público arquivou o processo por falta de indícios. Nenhum responsável da Tecnoforma foi acusado. Mas a disputa política já tinha feito o seu caminho. Ainda assim, a avaliação entre bastidores é consensual: “Cristóvão Carvalho foi o principal responsável por virar o jogo. Sem ele, o PS teria conseguido prolongar a narrativa da suspeita e Passos teria ficado muito mais fragilizado”, resume uma fonte próxima do processo.
Um caso de estudo Hoje, a atuação de Cristóvão Carvalho é vista como um exemplo raro de gestão de crise política-judicial em Portugal. Alinhou estratégia jurídica com comunicação, atacou em vez de se limitar a defender e soube ocupar o espaço público com eficácia. Entre bastidores, tanto no PS como no PSD, há quem reconheça: a Tecnoforma saiu ilibada em tribunal, mas foi no campo da opinião pública que o advogado venceu a sua batalha mais difícil.