
A relação comercial entre a Suíça e os EUA vive dias difíceis e o governo helvético já está em movimentações para antecipar o que poderá ser um choque para a indústria farmacêutica, uma das mais importantes do país. Ao ponto de o ministro da Economia, Guy Parmelin, e a ministra de Estado, Elisabeth Baume-Schneider, terem convocado uma reunião com as grandes farmacêuticas suíças: Novartis e Roche são duas das empresas confirmadas, com o jornal SonntagsBlick a sublinhar que outras empresas farmacêuticas também vão participar no encontro.
O grande objetivo da reunião será discutir as tarifas às exportações suíças para os EUA, que foram fixadas pelos norte-americanos em 39% – uma das mais elevadas do momento e que contrastam, por exemplo, com os 15% impostos aos países da União Europeia.
O encontro deverá decorrer ainda durante o mês de agosto, mas não foi confirmada uma data para a reunião entre os representantes do governo suíço e os executivos das farmacêuticas. “Os ministérios mantêm contactos regulares com todos os setores, incluindo a indústria farmacêutica. Estão previstas conversações no contexto da situação atual”, adiantou o gabinete da ministra de Estado ao jornal helvético.
A Suíça passa assim para um “plano B”, depois do plano principal ter falhado – a Presidente do Conselho Federal da Suíça, Karin Keller-Sutter, esteve esta semana nos EUA para negociar um acordo comercial menos penalizador, mas saiu com os mesmos 39% de tarifas com que tinha entrado. E nem sequer houve uma reunião direta com o Presidente dos EUA, Donald Trump.
Se do lado suíço tem havido uma espécie de silêncio enquanto se trabalha para alcançar um acordo comercial mais favorável, do lado dos EUA as intenções são bem conhecidas. “Queremos que os medicamentos sejam feitos no nosso país”, comentou no decorrer desta semana Donald Trump, a propósito da situação específica das farmacêuticas. “Inicialmente vamos impor uma tarifa pequena sobre os medicamentos, mas daqui a um ano, um ano e meio no máximo, vamos aumentar [as tarifas] para 150% e depois para 250%”. Nesta tirada, Trump acusou mesmo a Suíça de “fazer uma fortuna com os medicamentos”.
Em 2024, os EUA tiveram um défice comercial (a principal razão evocada por Donald Trump para a aplicação das tarifas) de 38 mil milhões de dólares com a Suíça. Nos primeiros seis meses de 2025, esse défice aumentou para 48 mil milhões de dólares. E, segundo o The New York Times, metade das exportações da Suíça para os EUA pertencem à indústria farmacêutica, o que corresponde a 35 mil milhões de dólares.
O sentimento de que algo mais precisa de ser feito já motivou, inclusive, que algumas figuras políticas suíças tenham pedido que o presidente da Federação Internacional de Futebol (FIFA), Gianni Infantino, “ajude” a criar novas pontes entre Donald Trump, com quem terá uma relação próxima, e os governantes suíços.
Mas o impasse comercial entre a Suíça e os EUA vai muito além das farmacêuticas – promete afetar o mercado do ouro e também o dos artigos de luxo, como os relógios.