O ‘bull market’ do ouro e da prata

O início de setembro trouxe a continuação de uma das tendências mais fortes dos últimos meses – a valorização dos metais preciosos. A cotação do ouro está em máximos históricos, seja expressa em dólares ou em euros, tendo já subido 36% e 21% este ano, respetivamente. A prata também está em máximos históricos em relação ao euro (+27% em 2025) e em níveis não vistos há 14 anos face ao dólar (+42%).

Há vários fatores que explicam esta evolução, não necessariamente os mesmos para os dois metais, mas há um denominador comum: a procura dos investidores por ativos alternativos como os metais preciosos, platina incluída, urânio, criptoativos, entre outros.

Esta alocação de ativos está associada à diversificação nas carteiras de investimento num contexto em que a procura por dívida pública tem vindo a exigir retornos mais altos, tendo em conta a evolução das contas públicas em alguns países. Por outro lado, as tensões geopolíticas são evidentes, sobretudo entre os EUA e a China, com as tarifas alfandegárias a contaminarem o ambiente diplomático entre os vários blocos mundiais. Os receios em torno da perda de independência da Fed e dos efeitos futuros da “Big Beautiful Bill” de Donald Trump ajudam a criar uma narrativa que coloca em causa o dólar e o sistema financeiro tradicional, tornando os ativos alternativos mais procurados.

Em termos fundamentais, há diferenças entre os mercados de ouro e prata. Para além do investimento, que aumentou agora para 29% do total da procura, o ouro tem alguma aplicação industrial (7%) e muita na joalharia (40%) – mas que tem diminuído devido à alta de preços. Os bancos centrais continuam a comprar ouro (24%) para diversificarem as suas reservas.

A prata é mais volátil e tende a ser mais especulativa. O mercado é bastante menor em comparação com o do ouro e o papel dos bancos centrais no mercado da prata é insignificante. As aplicações industriais representam cerca de 58% da procura, mas podem diminuir devido à alta de preços. O investimento representa 18%, a joalharia 17% e outras aplicações perto de 7%. O carácter especulativo da prata tem sido reforçado com a expectativa recente de que a Administração Trump a venha a classificar como um “minério crítico”.

Deve notar-se que, no caso de um aumento extremo de aversão ao risco no qual as bolsas desçam de forma significativa e abrupta, é de esperar que os metais preciosos também recuem por ser necessário liquidar posições ganhadoras ou fazer face a chamadas na margem.