ONU mostra que “é nas horas mais sombrias que humanidade se une para fazer história” – Guterres

Numa celebração dos 80 anos das Nações Unidas, intitulada “Um Legado Vivo”, Guterres dirigiu-se diretamente a todas as pessoas que dedicaram a sua vida ao “serviço, à ação e à esperança”, nomeadamente aos trabalhadores da ONU, assim como diplomatas, parceiros da sociedade civil, artistas, “defensores e agentes de mudança”.

“Vocês são a prova viva de que o mundo muda — não apenas através de declarações, mas através da dedicação. Através da coragem. Através do trabalho silencioso e persistente de pessoas que se recusam a desistir”, afirmou.

O evento, na sede da ONU, em Nova Iorque, contará com música, a apresentação de um documentário e reflexões inspiradoras, com o intuito de evidenciar a diversidade e as aspirações da comunidade internacional.

A celebração reúne Estados-membros, funcionários da ONU, académicos, sociedade civil, organizações não-governamentais e importantes parceiros filantrópicos para homenagear as conquistas da Organização e traçar coletivamente o caminho futuro.

“Esta noite — através de filmes, música e histórias — vamos testemunhar esta verdade. Seremos recordados de que, muitas vezes, é nas horas mais sombrias — quando o desespero se avizinha e a divisão se aprofunda — que a humanidade se une para fazer história”, frisou o líder das Nações Unidas.

O antigo primeiro-ministro português sublinhou que a organização “não é apenas um conjunto de edifícios, nem apenas palavras no papel”, argumentando que Nações Unidas estão vivas em cada pacificador que se posiciona entre o conflito e a calma.

“Em cada trabalhador humanitário que alcança o inalcançável. Em cada diplomata que escolhe o diálogo em vez da discórdia. Em todos vós que compreendem que os problemas globais exigem soluções globais”, acrescentou, referindo-se ainda às Nações Unidas como um dos empreendimentos mais ambiciosos e profundos da história da humanidade.

Guterres, cujo mandato termina no final de 2026, refletiu que o trabalho da organização é, muitas vezes, difícil e, por vezes, perigoso.

“Mas nós escolhemos trabalhar. Porque as oito décadas em que guerras foram evitadas, crianças foram educadas, doenças foram curadas e vidas foram salvas dizem-nos uma coisa: que tudo — e mais alguma coisa — é possível quando nos mantemos unidos”, insistiu.

“Por isso, esta noite, vamos celebrar não apenas o que foi conquistado, mas o que ainda está por vir. Vamos honrar o legado que herdámos — e comprometermo-nos com o legado que deixaremos para trás. Vamos manter o legado vivo — e a crescer — para todos”, concluiu.

No evento será apresentado “A Living Legacy”, uma curta-metragem do premiado diretor Sing J. Lee e da produtora e diretora criativa Sylvia Zakhary , que dá vida à história das Nações Unidas ao longo das últimas oito décadas.

A ONU celebra 80 anos desde que a Carta fundadora da organização multilateral foi assinada, efeméride que chega durante uma grave crise multidimensional da instituição, que tem em risco a sua influência e orçamento.

Apesar dos esforços de António Guterres para tentar convencer o mundo de que a ONU é hoje mais vital do que nunca, a organização fundada após a Segunda Guerra Mundial tem na atualidade a sua influência desacreditada e o seu pleno funcionamento em risco devido aos cortes de financiamento de nações como os Estados Unidos, país que acolhe a sede da instituição, em Nova Iorque, e o seu maior doador.

Na segunda-feira, arranca em Nova Iorque a Semana de Alto Nível da Assembleia-Geral da ONU, que terá a guerra em Gaza e a crise do multilateralismo em destaque, e onde são esperados dezenas de chefes de Estado e de Governo de todo o mundo.