Organismo de vigilância da ONU encontra vestígios de urânio num suposto local nuclear da Síria

Acredita-se que a Síria do ex-presidente Bashar al-Assad tenha operado um extenso programa nuclear não declarado, que incluiu um reator nuclear construído pela Coreia do Norte na província oriental de Deir el-Zour.

O diretor-geral da Agência Internacional de Energia Atómica, Rafael Mariano Grossi, já tinha dito à Associated Press que algumas das atividades da Síria “estavam, na opinião da agência, provavelmente relacionadas com armas nucleares”.

No ano passado, inspetores da AIEA visitaram e colheram amostras ambientais em “três locais que supostamente estavam funcionalmente relacionados” com o local de Deir el-Zour, e “a análise revelou um número significativo de partículas antropogénicas de urânio natural em amostras colhidas em um dos três locais”, afirmou o porta-voz da AIEA, Fredrik Dahl, em comunicado.

“Algumas destas partículas de urânio são consistentes com a conversão de concentrado de minério de urânio em óxido de urânio,” acrescentou. Isso seria típico de um reator nuclear.

Grossi reportou estas descobertas ao conselho de diretores da agência esta segunda-feira num relatório sobre os desenvolvimentos na Síria.

O local de Deir el-Zour só se tornou de conhecimento público, após Israel – que se acredita ser o único estado do Médio Oriente com armas nucleares, embora não tenha declarado o seu próprio programa – ter lançado ataques aéreos em 2007 que destruíram aquela instalação.

A Síria, posteriormente, nivelou o local e nunca respondeu completamente às perguntas da AIEA. Uma equipe da AIEA visitou alguns locais de interesse no ano passado enquanto Assad ainda estava no poder.

Após a queda de Assad, o novo governo liderado pelo presidente interino Ahmad al-Sharaa concordou em cooperar com a agência e proporcionou novo acesso dos inspetores ao local onde as partículas de urânio tinham sido encontradas.

Os inspetores recolheram então mais amostras e “avaliarão os resultados de todas as amostras ambientais recolhidas neste local e da informação obtida na visita planeada ao local (Deir el-Zour), podendo realizar atividades de acompanhamento, conforme necessário,” disse Dahl.

Numa entrevista à agência de notícias Associated Press (AP) em junho, durante uma visita a Damasco, Grossi afirmou que al-Sharaa tinha manifestado interesse em prosseguir com a energia nuclear para a Síria no futuro.

 Vários outros países da região estão a seguir o caminho de desenvolver de alguma forma a energia nuclear.

Grossi adiantou que a Síria provavelmente estaria interessada em reatores modulares pequenos, que são mais baratos e mais fáceis de colocar o terreno do que os tradicionais, de grande porte. E afirmou que a AIEA está preparada para ajudar a Síria a reconstruir a infraestrutura de radioterapia, medicina nuclear e oncologia, para um sistema de saúde bastante debilitado por quase 14 anos de guerra civil.