
Será a primeira vez que China, Rússia e Índia – e os seus respetivos líderes – se encontram ao mais alto nível depois da ‘novela’ das tarifas impostas pela administração Trump e da Cimeira do Alasca, cujos resultados são neste momento desconhecidos.
Poucos dias depois da cimeira do Alasca, entre os presidentes dos Estados Unidos e da Rússia, outro importante encontro internacional terá lugar: será a cimeira da Organização de Cooperação de Xangai (OCX), programada para Tianjin, na China, que decorrerá a 31 de agosto e 1 de setembro – a que se seguirá um desfile militar chinês, a 3 de setembro, aguardado com forte expectativa. Tal como sucede com o grupo BRICS, a OCX concentra interesses (talvez menos vastos) onde convergem a China, a Rússia e a Índia. O contexto de ser o primeiro encontro entre os ‘três grandes’ que não estão alinhados com os Estados Unidos depois do Alasca reveste a cimeira de especial interesse e de acrescidas expectativas.
Segundo a imprensa asiática, o presidente russo, Vladimir Putin, fez telefonemas para Xi Jinping, o presidente chinês, e para Narendra Modi, primeiro-ministro indiano (entre outros líderes de países membros da OCS), explicando o que tinha conversado com o enviado americano sobre a questão da Ucrânia. Putin deverá permanecer na China durante cerca de cinco dias e poderá aproveitar a oportunidade para obter vantagem nas negociações sobre a guerra na Ucrânia. Embora o desfile militar para celebrar o 80º aniversário da vitória da China sobre o Japão tenda a ser notícia, o encontro em Tianjin merece atenção especial.
A cimeira de Tianjin é a 25ª reunião do Conselho de Chefes de Estado da Organização de Cooperação de Xangai (OCS). Será a quinta vez que a China sediará a cimeira anual da OCS. Em 7 de março passado, Wang Yi, membro do Politburo do Partido Comunista Chinês e ministro das Relações Exteriores, declarou está a organizar o encontro ao pormenor. Ainda em março, foi realizada uma reunião de mobilização em Tianjin para dar início aos preparativos. Chen Min’ers, secretário do partido em Tianjin e chefe do Grupo de Trabalho Preparatório. Estava acompanhado por Zhang Gong, secretár-adjunto do Comité do Partido Comunista Chinês em Tianjin e autarca local, e Liu Bin, membro do Comité do PCC do Ministério das Relações Exteriores e ministro assistente, refere a imprensa chinesa. A 15 de julho passado, foi ali realizado um encontro do Conselho de Ministros das Relações Exteriores da OCS. De 11 a 13 de agosto, em formato videoconferência, o Conselho de Coordenadores Nacionais (CNC) dos estados-membros da OCS analisou uma ampla gama de questões relacionadas ao desenvolvimento da organização. “Em particular, as discussões abordaram o progresso da implementação de decisões relacionadas à melhoria das atividades da OCS e o processo de preparação de documentos importantes para consideração na próxima cimeira de chefes de Estado, incluindo o projeto da Declaração de Tianjin e a Estratégia de Desenvolvimento da OCS até 2035. Como resultado das discussões, decidiu-se continuar as consultas regulares por meio do canal CNC”, referia a organização em comunicado.
Um dos temas em destaque será certamente o das tarifas. Um julho, a organização publicou um ‘statement’ em que afirmava que “os Estados-membros da Organização de Cooperação de Xangai apoiam um sistema de comércio multilateral aberto, transparente, justo, inclusivo e não discriminatório, com o papel central da Organização Mundial do Comércio (OMC), e estão comprometidos em promover o desenvolvimento de uma economia global aberta. Os Estados-membros da OCS continuarão a empreender esforços conjuntos para fortalecer o sistema multilateral de comércio, com a OMC em seu núcleo, para responder efetivamente aos desafios comerciais. Os Estados-membros da OCS confirmam a importância das discussões sobre questões de desenvolvimento dentro da OMC e enfatizam a necessidade de manter cadeias de suprimentos globais abertas, inclusivas, sustentáveis, estáveis, diversificadas e confiáveis”.
O grupo dos Cinco de Xangai foi criado em 26 de abril de 1996, quando os chefes de Estado da China, Cazaquistão, Quirguistão, Rússia e Tajiquistão assinaram o Tratado sobre o Aprofundamento da Confiança Militar nas Regiões Fronteiriças em Xangai. Mas o grupo só em 2001seria institucionalizado. Os cinco países fundadores admitiram o Uzbequistão. Em 2005, no Cazaquistão, representantes da Índia, Irão, Mongólia e Paquistão participaram pela primeira vez numa cimeira da OCS. Bielorrússia, China, Índia, Irão, Cazaquistão, Quirguistão, Paquistão, Rússia, Tajiquistão e Uzbequistão são os atuais membros – com Arménia, Azerbaijão, Bahrein, Camboja, Egipto, Kuwait, Maldivas, Mianmar, Nepal, Qatar, Arábia Saudita, Sri Lanka, Turquia e Emirados Árabes Unidos a agregarem interesses num chamado grupo de ‘parceiros para o diálogo’.