Os bipes de “segurança” do seu carro podem prejudicar em vez de ajudar na condução segura

Tudo o que é demais é erro. É velho o adágio e aplica-se que nem uma luva aos constantes bipes que os carros mais recentes lançam como suposto alerta de segurança. Se passamos o limite de velocidade, bip! Se pisamos a linha da via, bip! Se nos aproximamos mais do veículo da frente, bip! Se não abrimos bem os olhos, bip! Estes são apenas alguns dos muitos sistemas que hoje interagem com o condutor. Agora, um estudo diz que, afinal, são mais prejudiciais do que ajudas à condução.

Ilustração sistema de segurança automóvel com bips a mais


ADAS com bips a mais e segurança a menos?

A maioria dos carros modernos oferece Sistemas Avançados de Assistência à Condução (ADAS) que trabalham ativamente para manter os condutores em segurança.

Por exemplo, o Aviso de Saída de Faixa nos carros modernos emite um alarme se, de forma intencional ou não, se desviar lateralmente de uma linha branca. Este sistema foi concebido para evitar que o condutor se desvie do percurso devido a distração ou sonolência.

A investigação demonstrou que estes sistemas ajudam efetivamente a evitar acidentes. No entanto, alguns condutores consideram os seus alertas e avisos irritantes e muitas vezes desnecessários.

Recentemente, um estudo cuidadosamente estruturado demonstrou que o uso destes sistemas também altera o comportamento dos condutores, e que, por vezes, esta alteração é para pior.

Imagem com ilustração de ADAS para segurança de condução

Assistência à condução: eficaz, mas com efeitos secundários

Os Sistemas Avançados de Assistência à Condução (ADAS), como o Aviso de Saída de Faixa ou o Aviso de Colisão Frontal, foram desenhados para evitar acidentes através de alertas visuais ou sonoros.

A sua eficácia é comprovada: reduzem as colisões em 15% (avisos de colisão e faixa) e em 19% (detetor de ângulo morto).

Novo estudo revela alterações no comportamento dos condutores

Investigadores dos EUA e de Hong Kong analisaram dados de 195.743 veículos nos EUA, recolhidos por telemática de um fabricante automóvel.

Avaliaram a frequência de excessos de velocidade e travagens bruscas, tendo em conta também género, idade, rendimento e antiguidade dos veículos.

O estudo concluiu que os condutores que usavam apenas os avisos de Colisão Frontal e Saída de Faixa tinham cerca de 5% mais episódios de excesso de velocidade e 6% mais travagens bruscas por dia, em comparação com os condutores que não usavam ADAS.

Dois tipos de ADAS com efeitos opostos

O estudo distinguiu dois grupos:

  • Sistemas exigentes: como os avisos de colisão frontal e de saída de faixa, que requerem resposta imediata.
  • Sistemas informativos: como o detetor de ângulo morto, que apenas alerta visualmente.

Condutores com sistemas exigentes apresentaram mais 5% de episódios de excesso de velocidade e mais 6% de travagens bruscas por dia, comparando com quem não tinha ADAS.

Já os que usavam apenas detetor de ângulo morto registaram menos 9% de excessos de velocidade e menos 7% de travagens bruscas.

Os alertas de Colisão Frontal e Saída de Faixa reduziram os acidentes em 15%, e o Detetor de Ângulo Morto em 19%.

Explicação cognitiva e diferença entre sexos

Os autores sugerem que os alertas urgentes ativam processos automáticos (Sistema 1), fazendo os condutores sentirem-se protegidos e, por isso, menos cuidadosos. Em contraste, os alertas informativos promovem reflexão (Sistema 2), o que conduz a um comportamento mais seguro.

Mulheres, segundo o estudo, são mais sensíveis ao efeito positivo dos alertas informativos e menos suscetíveis aos efeitos negativos dos alertas exigentes, reforçando a ideia de aprendizagem reflexiva.

Portanto, apesar da eficácia na prevenção de colisões, o estudo recomenda que os fabricantes revejam a forma como os alertas são emitidos, privilegiando abordagens menos intrusivas que não incentivem a condução imprudente.