
Mercado continua deprimido em Portugal, mas acredita-se na recuperação, seguindo a Europa, apesar de toda a instabilidade. Imobiliário, sim, também energia, tecnologia e saúde.
Os agentes de fusões e aquisições estão cautelosos quanto ao futuro próximo. Esperam um aumento do negócio, mas contido, por causa da volatilidade no mercado, da incerteza quanto à evolução das taxas de juro e dos efeitos da guerra comercial.
Metade dos 250 negociadores e executivos de empresas e private equity inquiridos para o relatório European M&A Outlook 2026 da CMS espera que o nível de atividade de fusões e aquisições na Europa aumente nos próximos 12 meses.
No ano passado, os otimistas eram 65%, mas a realidade mostrou-se mais adversa. O número de negócios feitos no primeiro semestre deste ano caiu 15% face ao período homólogo de 2024, mas o valor total, ainda assim, subiu 5%, para 474 mil milhões de euros.
Em Portugal, o registo tem sido negativo, contrariando o otimismo que imperava entre os agentes no final de 2024. Nos primeiros oito meses deste ano, o número de negócios feitos caiu 11%, relativamente ao período homólogo, e o capital mobilizado despencou 39%. Ainda que se tenha em conta que só foram divulgados valores de 40% das transações e que o grande negócio da década, a venda do Novobanco ao BPCE, não está contabilizado, mas é um negócio único, extraordinário.
Espera-se que haja uma recuperação, finalmente. “Antecipamos que o mercado de M&A em Portugal siga a tendência do mercado europeu e a expectativa é moderadamente otimista”, diz ao JE João Caldeira, sócio de Corporate M&A da CMS Portugal. Isto, “apesar de alguns desafios importantes que se colocam”.
O European M&A Outlook 2026 identifica como principais obstáculos à concretização de operações as dificuldades de financiamento, com tendência para se acentuarem. Um terço dos inquiridos (34%) acredita que as dificuldades em obter financiamento empresarial serão um grande obstáculo. Depois, as diferenças de valorização entre compradores e vendedores e o risco de aumento de tarifas, com possibilidade de assistirmos a guerras comerciais.
“A instabilidade das tarifas é realmente um facto novo, com efeitos perturbadores, e a forma como estas evoluírem impactará de forma significativa, para o bem ou para o mal, a atividade de M&A”, diz João Caldeira.
Contrabalança com um conjunto de fatores que suportam o otimismo moderado mencionado: “A existência de empresas desvalorizadas, que poderão representar boas oportunidades de investimento, oportunidades de reestruturação de empresas com performances medíocres e consequente criação de valor e oportunidades de aquisições para crescimento ou para transformação qualitativa dos negócios”.
Em que setores? “O real estate continuará a ter um peso importante, mas outros setores também poderão ter um bom desempenho, como o setor hoteleiro, energia, novas tecnologias, infraestruturas digitais soluções de IA e de cibersegurança, e o setor da saúde”, aponta.