
Um facto: o voluntariado é uma força imensa na sociedade. A Lei define o voluntariado como “o conjunto de ações de interesse social e comunitário realizadas de forma desinteressada por pessoas” e acrescenta que “obedece aos princípios da solidariedade, da participação, da cooperação, da complementaridade, da gratuitidade, da responsabilidade e da convergência.” Foi assim que reconhecemos em Portugal o valor, enquadramento, direitos e deveres de um voluntário – em 1998.
O voluntário humaniza o trabalho profissional, complementa no detalhe, na disponibilidade, na generosidade e na alegria que dedica à sua função. No trabalho social, o voluntário faz a diferença entre prestar um serviço e estar simplesmente ao lado que quem mais precisa, quando um abraço ou um sorriso são decisivos na vida de alguém que está em situação em vulnerabilidade. Mais ainda: valoriza as instituições onde serve. O voluntário tem um olhar exterior sobre o trabalho desenvolvido pelas instituições e contribui com as suas questões, sugestões e conhecimento acumulado para a melhoria dos processos e projetos em que se envolve. O voluntário não substitui o trabalho contratado, mas complementa e enriquece o resultado final.
O estudo da ATES – Área Transversal de Economia Social da Universidade Católica do Porto – sobre a importância económica das IPSS em Portugal reforça a importância do trabalho voluntário: “A importância económica e social das IPSS também inclui a função de mobilização de trabalho voluntário para os seus órgãos sociais, para apoio administrativo, para colaboração nos vários serviços que prestam aos seus utentes e para ações de angariação de fundos.” É muito relevante a generosidade de profissionais altamente qualificados no desenvolvimento das IPSS, assumindo muitas vezes responsabilidades e liderança que terá de ser simultaneamente inspiradora e servidora.
Na Cáritas acreditamos que o trabalho voluntariado também contribui para reforçar os laços sociais e criar comunidades mais participativas e inclusivas. O enraizamento de um projeto na comunidade, através dos voluntários, capacita-a de mais recursos para dar resposta aos problemas que os seus membros enfrentam, sejam migrantes, idosos ou jovens. O recurso ao voluntariado permite criar, de forma sustentada, comunidades fortes e integradas e mitigar obstáculos que levam ao isolamento e apatia social. E por isso criamos contextos, desenvolvemos iniciativas de promoção e capacitação do voluntariado local e apoiamos grupos de voluntários nas paróquias da diocese de Lisboa.
A transformação social também se faz através do voluntariado – as aprendizagens, experiências e contacto com outros contextos traz valor para dentro das famílias, escola ou empresas. Uma experiência de voluntariado rica tem o efeito de contaminar de forma positiva as decisões que se tomam noutras áreas da vida. A experiência do voluntário é transportada, com maior ou menor intensidade, para a sua vida.
Um gestor que seja mentor de um adolescente em situação de vulnerabilidade, por exemplo, provavelmente poderá alterar a forma como encara o compromisso da sua empresa para com a comunidade, sem pôr em causa os objetivos de gestão a que se propôs – quer através de donativos, quer através da forma como dá atenção a trabalhadores mais desfavorecidos ou escolhe os seus fornecedores.
Por último, se pensarmos do ponto de vista não institucional ou comunitário, mas pessoal, o voluntário tem muito a ganhar. Estou convicta que o tempo despendido, de forma totalmente gratuita, multiplica os ganhos em crescimento pessoal e desenvolvimento profissional. Atualmente, os curricula são avaliados pelas entidades empregadoras quer pelo desempenho académico, quer pelas experiências de vida onde se incluem as ações de voluntariado. E estas ações podem ser pontuais ou regulares.
Na Cáritas em Lisboa um voluntário que se compromete a fazer recolha de alimentos ou material escolar em determinadas épocas do ano ou um outro que se compromete a combater a solidão com um compromisso semanal de assegurar uma relação com um idoso ou ainda quinzenal na dinamização de uma oficina com um grupo de pessoas que sofrem em solidão são de um valor enorme. E a instituição conta com esta força imensa que o voluntário traz à sociedade. Não seria igual se fosse um trabalho contratado, perderia a beleza da gratuidade, do amor desinteressado.
Neste contexto o perfil de um voluntário define-se pela generosidade do tempo que entrega a uma pessoa ou instituição. Nem todos os voluntários podem fazer todas as tarefas, mas há certamente uma tarefa para cada pessoa que oferece generosamente o seu tempo e as suas capacidades. Quer seja uma ação de trabalho voluntário em órgãos sociais, apoio administrativo, colaboração nos vários serviços ou angariação de fundos o que é certo é que: voluntários precisam-se. Essa pessoa posso muito bem ser eu, com o muito ou pouco tempo que tenho, as capacidades que desenvolvi, mas, sobretudo, com generosidade: porque não ser eu o voluntário?