Pela primeira vez, cientistas transplantaram um pulmão de porco para um humano

A escassez de órgãos humanos para transplante motiva a medicina a explorar outros seres vivos, que podem ter dentro de si soluções viáveis. Neste sentido, cientistas transplantaram, pela primeira vez, um pulmão de porco geneticamente modificado para um humano.



Apesar de o resultado a médio prazo não ter sido profícuo, o porco já forneceu alguns órgãos aos seres humanos:

  • Em 2021, médicos americanos realizaram, pela primeira vez na história, um transplante de rim de porco para humano sem que o corpo produzisse rejeição;
  • Em 2022, córneas experimentais de colagénio de porco devolveram a visão a 20 pessoas;
  • Em 2024, um rim de porco foi transplantado para um paciente vivo.

Entretanto, em 2025, investigadores modificaram geneticamente um pulmão de porco, por forma a reduzir as hipóteses de o corpo do recetor humano rejeitar o pulmão, e transplantaram o órgão para um corpo humano.

Pulmão de porco não foi rejeitado pelo recetor inicialmente

O procedimento foi realizado num homem de 39 anos, que havia sido declarado com morte cerebral.

Segundo a equipa, o corpo recetor não rejeitou imediatamente o pulmão e o tecido permaneceu vivo durante nove dias. Contudo, um dia após a operação, o órgão transplantado estava parcialmente cheio de líquido, apresentando sinais de inflamação, e, no terceiro dia, os anticorpos do sistema imunológico do recetor começaram a rejeitar o pulmão.

Apesar de ainda não estar pronto para uso clínico, o procedimento pode ajudar os cientistas a compreender e lidar com a resposta do sistema imunológico a um transplante de pulmão entre espécies.

Considerando a escassez de órgãos humanos em todo o mundo, alguns cientistas dedicam-se a investigar o processo de transplante de órgãos entre espécies.

Neste caso, o ensaio reforça que os chamados xenotransplantes de pulmão são possíveis. Contudo, enfrentam várias limitações que ainda impedem o uso generalizado de pulmões de porco em pacientes humanos.

Além disso, conforme ressalvado por Richard Pierson III, cirurgião de transplante torácico do Massachusetts General Hospital, em Boston, que não participou no estudo, não é claro se o pulmão transplantado poderia aguentar-se no recetor sem suporte de vida.

Para Muhammad Mohiuddin, diretor do Programa de Xenotransplante Cardíaco da Faculdade de Medicina da Universidade de Maryland, que não participou no estudo, o processo de xenotransplantes será muito gradual.

Aliás, devido a estas questões em aberto, é provável que os xenotransplantes de pulmão não integrem a prática clínica num futuro próximo.