Um estudo recente analisou a viabilidade de uma missão para intercetar o 3I/ATLAS. Este cometa está a deixar a comunidade cientifica “com a pulga atrás da orelha”. Será mesmo só um cometa?
Desde 2017, três objetos interestelares foram detetados a atravessar o nosso sistema solar: 1I/ʻOumuamua, 2I/Borisov e agora, em julho de 2025, 3I/ATLAS. Descoberto no dia 1 de julho pelo programa ATLAS (Asteroid Terrestrial-impact Last Alert System), este novo cometa está atualmente a atravessar o sistema solar interior.
Todos os telescópios terrestres e espaciais serão agora apontados ao 3I/ATLAS, mas há uma questão inevitável: será possível vê-lo de perto? Conseguiremos sequer persegui-lo com a tecnologia atual?

Imagem do cometa interestelar 3I/ATLAS, com um núcleo estimado em cerca de 11 km de diâmetro. Descoberto a 1 de julho de 2025, atravessa o sistema solar a mais de 58 km/s e poderá ter origem no disco espesso da Via Láctea, trazendo gelo e compostos orgânicos antigos.
Um cometa antigo e veloz
Até ao momento, sabe-se que o 3I/ATLAS é um objeto muito antigo, oriundo do disco espesso da Via Láctea. Observações do telescópio Gemini North confirmaram a sua natureza cometária. Neste momento, apresenta uma magnitude de +17 e encontra-se na constelação de Ofiúco.
Espera-se que atinja a magnitude +12 quando atingir o periélio, a 1,356 unidades astronómicas do Sol, a 29 de outubro.
Ao contrário do ʻOumuamua, o 3I/ATLAS ainda se encontra na sua aproximação ao Sol. No entanto, desloca-se a uma velocidade impressionante de 58 km/s em relação ao Sol.
Seria possível uma missão de perseguição?
Um estudo da Universidade Estatal do Michigan, publicado no arXiv, explorou a possibilidade de uma missão de aproximação, com partida da Terra ou de Marte. O estudo propõe uma abordagem que poderá servir de modelo para futuras missões semelhantes.
Segundo o autor principal, Atsuhiro Yaginuma, uma passagem próxima permitiria análises diretas da composição do cometa, incluindo gelo, poeiras e compostos orgânicos, bem como imagens de alta resolução do núcleo, revelando a sua forma, rotação e jatos ativos.
Estes dados poderiam trazer informações valiosas sobre a formação planetária noutros sistemas solares.
Vários cenários em estudo
Uma missão lançada da Terra exigiria um delta-V inicial de 24 km/s, valor próximo dos 23 km/s alcançados pela missão Dawn. Já a partir de Marte, em início de 2025, seriam necessários apenas 5 km/s, beneficiando da passagem do cometa a 0,2 UA (29 milhões de km) do planeta vermelho, a 3 de outubro.
A aproximação à Terra será menos favorável: 1,8 UA a 19 de dezembro.
Várias sondas atualmente em Marte poderiam observar o 3I/ATLAS, incluindo a MAVEN, Mars Odyssey, MRO, Mars Express e a TGO da ESA. Segundo Yaginuma, estas missões poderão registar imagens únicas durante o periélio, altura em que o cometa não será visível da Terra.
Missões reutilizáveis e oportunidades perdidas
O estudo analisa também a possibilidade de reutilizar missões já construídas. Um exemplo é a missão Janus, composta por duas pequenas sondas de 36 kg que ficaram em espera após o adiamento da missão Psyche. Segundo Yaginuma, estas sondas poderiam ser reativadas e direcionadas ao 3I/ATLAS, se o lançamento for feito a curto prazo.
A missão OSIRIS-APEX, anteriormente designada OSIRIS-REx, que será redirecionada para o asteroide Apofis em 2029, poderá fazer observações à distância do 3I/ATLAS a partir de novembro, após uma manobra gravitacional sobre a Terra em setembro.
Contudo, a maior parte das janelas de lançamento ideais já passou, tornando esta missão um exercício teórico. A elevada velocidade do cometa (superior a 60 km/s) também dificulta a obtenção de imagens nítidas durante uma aproximação rápida.
A título de comparação, a missão New Horizons sobrevoou Plutão a 14 km/s em 2015.
O futuro das missões de interceção
No futuro, missões como a Comet Intercetor, da ESA, poderão estar preparadas para este tipo de encontros. Com lançamento previsto para 2029, ficará estacionada no ponto L2 Sol-Terra, pronta para intercetar um alvo inesperado. Poderá lançar duas pequenas sondas para estudar o objeto de vários ângulos em simultâneo.
Yaginuma sublinha que, embora a probabilidade de um objeto interestelar adequado passar por perto seja reduzida, é essencial detetá-los com a maior antecedência possível.
Observatórios como o Vera C. Rubin serão fundamentais para identificar cedo estas raras visitas interestelares e maximizar as hipóteses de as estudar com missões dedicadas.