
Temos tecnologia, sol, vento e talento. Mas precisamos de pragmatismo: a transição não se faz apenas com renováveis, mas com um mix energético otimizado, resiliente e cada vez mais eficiente – capaz de reduzir substancialmente as emissões de carbono sem comprometer a segurança de abastecimento ou competitividade. Esta aspiração só se concretiza com políticas públicas à altura. Menos burocracia. Incentivos à I&D. Formação técnica alinhada com as novas exigências. Investimento em redes modernas. E uma governança clara, capaz de unir todas as peças e medir resultados.
Persistem barreiras estruturais: redes desatualizadas, processos de licenciamento morosos, dependência parcial de combustíveis fósseis e escassez de soluções de armazenamento em escala. É, por isso, crucial mobilizar empresas, centros de investigação, Universidades e entidades públicas para acelerar a transição com equilíbrio, tecnologia e colaboração.
Um cluster de energia bem estruturado será o motor desta evolução. Mais do que ampliar renováveis, será necessário integrar tecnologias, digitalizar sistemas, otimizar consumos e desenvolver soluções complementares como gases sustentáveis, biocombustíveis, armazenamento e eficiência energética. O objetivo é claro: tornar a transição energética uma alavanca de crescimento económico sustentável, inovação e competitividade internacional.
No plano internacional, um cluster bem estruturado adquire capacidade para gerar know-how valioso, que vai desde redes inteligentes até sistemas de armazenamento e eficiência industrial. Essa experiência não só capacita Portugal a exportar tecnologias e serviços energéticos limpos, como também transforma o país de simples consumidor em fornecedor de soluções de tecnologia limpa, reforçando o “Made in Portugal” como sinónimo de qualidade no setor. Isso traduz-se, além de mais exportação, numa projeção crescente de soft power.
A inovação e a digitalização são forças motrizes deste processo, com ferramentas como big data, inteligência artificial e redes inteligentes a permitir o controlo dos consumos, a otimização de fluxos energéticos e a integração eficiente de diferentes fontes. Ao mesmo tempo, incentivar cadeias de valor locais torna-se imprescindível para que Portugal deixe de ser apenas um utilizador das tecnologias e passe a assumir o papel de fabricante e exportador.
Por outro lado, integrar a economia circular – que maximiza o uso dos materiais e reduz resíduos – com uma reindustrialização orientada para a produção local de tecnologias críticas, tem o mérito de criar novos empregos e reduzir dependências externas. Do mesmo modo, descentralizar e democratizar o acesso à energia não só diversifica a produção e reduz perdas, como também reforça a eficiência do sistema e aumenta a autonomia dos cidadãos.
Este movimento conjunto manifesta-se num impacto social e económico substancial. O desenvolvimento sustentado exige quadros qualificados: engenheiros, gestores de energia, técnicos de digitalização e especialistas em eficiência. É nesse sentido que um cluster forte origina emprego qualificado, retém talento e promove a requalificação constante, garantindo ao país não só a redução da emigração jovem como a atração de especialistas estrangeiros que dinamizam uma nova geração industrial sustentável.
Portugal está dotado de recursos e conhecimento, faltando apenas ligar os pontos. O cluster da energia não pode, assim, reduzir-se a um slogan; irá afirmar-se como compromisso estratégico e transversal, capaz de transformar a transição energética numa verdadeira alavanca de crescimento económico sustentável, inovação e competitividade internacional.