Powell vê Fed numa “boa posição” para lidar com economia “numa situação incomum”

Os riscos para a inflação, emprego e crescimento são variados e podem empurrar estes indicadores para qualquer direção, pelo que a atual postura “moderadamente restritiva” da Fed continua a ser apropriada, defendeu Jerome Powell.

O presidente da Reserva Federal considera que a economia norte-americana está numa boa posição para responder a uma situação desafiante e pouco comum, em que continua a mostrar vitalidade, mas com riscos para ambos os lados. A inflação ameaça volta a subir com as tarifas de Trump, algo que já se começa a notar, mas tem de ser avaliado com mais precaução, e o crescimento surpreendeu pela positiva, mas com detalhes pouco animadores.

As taxas diretoras permaneceram entre 4,25% e 4,5% pela quinta reunião consecutiva esta quarta-feira, uma decisão que era dada como adquirida pelos mercados, mas com dois votos contra pela primeira vez em mais de 30 anos. Na conferência de imprensa que se seguiu ao anúncio de política monetária, Jerome Powell falou numa economia forte, mas com sinais de arrefecimento.

“A economia está em boas condições, mas numa situação incomum”, resumiu, expondo riscos em ambas as direções nos preços, mercado laboral e crescimento. Ainda assim, o presidente argumentou que “o atual nível da política monetária deixa a Fed bem posicionada para responder de forma atempada a potenciais desenvolvimentos económicos”, sendo, por enquanto, apropriado manter “uma postura moderadamente restritiva”.

Quanto ao futuro, e como tem vindo a ser hábito, não houve sinais. “Vamos ter de continuar a olhar para os dados”, repetiu, reconhecendo que estes “podem ir em muitas direções diferentes” – um sinal claro que a Fed ainda vê a incerteza em alta.

A inflação continua acima do objetivo de 2%, com a leitura de quarta-feira do índice de gastos pessoais de consumo (PCE), a medida preferencial do banco central para avaliar a pressão nos preços, em 2,1% no segundo trimestre. O indicador subjacente ficou em 2,5%.

Powell esclareceu que os impactos das barreiras ao comércio na inflação ainda terão de ser avaliados, embora a subida da tarifa média “tenha começado a mostrar-se mais claramente no preço de alguns bens”. O foco, contudo, está em “manter as expectativas de longo prazo bem ancoradas”, embora uma coisa já seja certa: quem vai pagar a fatura serão importadores e consumidores.

O mercado laboral continua robusto, mas “há riscos descendentes”, apontou. A criação de emprego torna-se agora secundária e “o principal número a ver é o desemprego”, dado o risco de arrefecimento da economia, mas os sinais continuam a ser de tranquilidade.

“Os salários estão a arrefecer gradualmente, as vagas por desempregado também… Temos um mercado laboral sólido”, resumiu.