
Bem sei que agora entra agosto e que não é tempo de falar de coisas sérias. Mas o país não vai parar e percebe-se a urgência de encontrar um novo Presidente. Não falo do presidente da junta ou da câmara municipal. Essa escolha está em marcha e vai alimentando localmente as máquinas de campanha. Não me refiro também às eleições para a presidência do Sport Lisboa e Benfica. Rivaliza em número de candidaturas com as presidenciais, mas terá certamente direito a quase exclusividade na antena durante o mês de outubro e novembro. Estou infelizmente a referir-me ao mais Alto Magistrado da Nação. Vamos ter mais seis longos meses de mandato em que só poderemos temer o pior. Aparentemente servirão apenas para ajustes de contas com a sua consciência e com alguns inimigos de estimação.
O segundo mandato de Marcelo Rebelo de Sousa dificilmente poderia ter corrido pior. Tudo por culpa própria. Muitos são os episódios e as polémicas criadas em Belém. Mas também é notório que, a partir de determinada altura, a influência e o respeito de outros tempos se perderam por completo. A partir de 2021 tudo começou a mudar. As quezílias permanentes com António Costa que perduraram até à sua queda. O esforço continuado para isolar André Ventura e o partido Chega não aceitando o seu crescimento. A falta de empatia com a suposta ruralidade de Luís Montenegro que nunca permitiu que se estabelecesse uma relação de confiança entre ambos. A falta de peso na escolha do novo Procurador-Geral da República em que apenas o nomeou sob proposta do Governo. A ação deliberada de atrapalhar o caminho ao almirante Gouveia e Melo procurando impedir a sua candidatura presidencial. A tentativa desesperada de evitar eleições antecipadas em 2025 através de ameaças aos socialistas que, ao não resultarem, tiveram como consequência a sua realização. O apelo permanente a entendimentos ao centro sem que um único tivesse sido concretizado. O total alheamento do processo de seleção do novo governador do Banco de Portugal em que se a escolha fosse sua nunca teria recaído em Álvaro Santos Pereira. E agora, cereja no topo do bolo, o “puxão de orelhas” ao Governo e o envio para o Tribunal Constitucional da Lei dos Estrangeiros para fiscalização preventiva. O conjunto de factos referidos não é de forma nenhuma exaustivo nem relata com detalhe o afã permanente de Marcelo em estar presente na ordem do dia.
Ao vazio de uma esquerda perdida e sem rumo, opõe-se uma direita sobrelotada e aparentemente autofágica com candidatos assumidos e outros tantos em reflexão.
Ninguém sabe bem o que ainda estará para vir. A imaginação prodigiosa de Marcelo e a vontade de não ir embora sem deixar todas as contas ajustadas, prenuncia seis meses de grande agitação política. O Governo pode não lhe querer dar importância, o Parlamento não ligar nenhuma ao que ele diz, o povo mostrar-se indiferente à sua aparição diária. Mas não o menosprezemos. Que ele é muito bom a criar a confusão, disso ninguém tenha qualquer dúvida. Seria por isso muito positivo que a sua sucessão fosse preparada rapidamente e pudéssemos fazer as nossas escolhas de forma tranquila, como seria próprio de uma democracia madura. Mas parece que nem aí temos sorte. A proliferação de candidaturas parece querer demonstrar que ao centro e à direita ninguém está muito contente com quem já avançou e, à esquerda, poucos são os que têm a coragem de dar o corpo às balas. Esta escolha é tão mais importante quanto mais intenso for o sentimento da necessidade de substituir rapidamente o atual Presidente. Queremos alguém que represente quase o contrário do que foram os últimos quatro anos de Marcelo. Por isso importa estabilizar o quadro de candidatos para que o amadurecimento do processo de decisão dos eleitores possa acontecer. Quem tiver de aparecer que o faça rapidamente. Ao vazio de uma esquerda perdida e sem rumo, opõe-se uma direita sobrelotada e aparentemente autofágica com candidatos assumidos e outros tantos em reflexão. Já nem conseguimos dizer todos os nomes na corrida. Bem sei que haverá uma segunda volta. Mas bom seria, pelas razões enunciadas, que conseguíssemos deixar rapidamente de pensar no atual Presidente.