Um grupo formado por funcionários e apoiantes da NASA reuniu-se pacificamente em frente à sede da agência norte-americana, em Washington. Num momento de turbulência, o grupo NASA Needs Help protestou contra os cortes no financiamento e no pessoal que ameaçam a sobrevivência de uma das principais fontes de ciência do mundo.
“A NASA é um produto tangível da maior expressão do sonho americano. Toda a humanidade sonhou em alcançar as estrelas e, ao longo de décadas de apoio unificado do Congresso, dos presidentes e do público americano, conseguimos. Desmantelar esta instituição americana é uma palhaçada para a qual ninguém votou”, disse Colette Delawalla, diretora-executiva da Stand Up for Science, no protesto.
O protesto pacífico à frente da sede da NASA, em Washington, aconteceu, na sequência de uma série de medidas impostas e propostas por Donald Trump, nomeadamente uma proposta de cortes orçamentais que poderiam reduzir o financiamento da agência espacial em quase 25%, e a recente ordem executiva que retira direitos sindicais aos trabalhadores, nomeadamente:
- Término dos acordos coletivos com os sindicatos;
- Interrupção da recolha de contribuições sindicais pela NASA em nome dos sindicatos;
- Expulsão dos sindicatos dos seus escritórios.
O Governo dos Estados Unidos tem procurado concretizar cortes de financiamento e demissões de pessoal em todas as agências científicas e de investigação do país, e a NASA tem sido uma das vítimas.

Entrada do edifício Mary W. Jackson da NASA, em Washington. Crédito: Kevin Carter, via Scientific American
NASA está a ser vítima de cortes pelo Governo dos Estados Unidos
Além de a NASA ter já perdido quase 4000 funcionários através de um programa de demissão diferida — cerca de 20% da sua força de trabalho —, a administração de Trump emitiu uma ordem executiva que cancela os direitos sindicais em várias agências federais, sob o argumento de que as funções que esses trabalhadores desempenham estão ligadas à segurança nacional.
A NASA não é uma agência de inteligência. A NASA é uma agência científica. E os trabalhadores da NASA têm negociado coletivamente há décadas sem prejudicar a segurança nacional.
Defendeu Monica Gorman, vice-presidente regional da Goddard Engineers, Scientists and Technicians Association, que representa os funcionários do Goddard Space Flight Center da NASA, em Greenbelt, Maryland, acusando que “isto é apenas um pretexto para expandir o ataque de Trump ao movimento trabalhista como um todo”.
Conforme lamentou Colette Delawalla, no protesto, “enquanto estou aqui hoje, a Casa Branca está a destruir o ecossistema que resultou numa economia que floresce, liderança global em tecnologia e ciência e progresso, esforços de saúde pública que salvam milhões de vidas por ano, segurança nacional que nos mantém seguros e uma comunidade intelectual rica e vibrante, e um sistema onde as crianças podem crescer e querer ser astronautas”.
Para os protestantes, a decisão do Governo dos Estados Unidos de cancelar os acordos coletivos de trabalho é o maior retrocesso nas proteções trabalhistas que os funcionários da NASA já enfrentaram: a ordem executiva afeta milhares de cientistas, engenheiros e técnicos da agência espacial e elimina os direitos sindicais que protegeram a força de trabalho durante décadas.
Falta de direitos sindicais prejudicará a eficiência dos trabalhadores
Segundo Monica Gorman, retirar os direitos sindicais aos trabalhadores colocará em risco a missão da NASA, uma vez que tornará os funcionários da agência menos propensos a “manifestar-se e levantar questões inconvenientes”.
Para ela, enquanto analista de pesquisa operacional na NASA, é importante poder fornecer estimativas de custos independentes para as missões sem medo de retaliação.
Grande parte da razão pela qual eu e os meus colegas temos essa independência é porque, como trabalhador representado por um sindicato, sei que estou protegida contra retaliações injustas. Não posso ser arbitrariamente punida quando tenho direitos sindicais.
Conforme explicou, Trump está a eliminar um dos motores que confere eficiência aos funcionários da NASA: “As pessoas têm preocupações e, se não se sentem seguras no trabalho, se não têm a confiança de que podem falar e apresentar essas preocupações sem retaliação, essas preocupações ficam enterradas”.
Entretanto, perante este cenário, a NASA será adicionada a uma ação judicial em andamento que contesta o término dos direitos de negociação coletiva ainda esta semana, segundo Matthew Biggs, presidente da Federação Internacional de Engenheiros Profissionais e Técnicos.